março 08, 2004

EXAMES, NÃO-EXAMES, 3. Leio nos jornais uns discursos ininteligíveis sobre pedagogia: reconheço o tom, durante anos (quando ensinei) tive alunos que me mostraram a gramática dessa novilingua, mas reconheço pouco mais a não ser uma tentação de fuga. Admito que existam razões para recusar os exames, mas uma delas não é a de que existem «projectos educativos em curso», como sustenta o presidente de uma «confederação de pais» (tirar um bocadinho os pais da escola era prestar um grande favor ao ensino), que os exames vêm interromper. E outra não será, certamente, o facto de «a escolaridade obrigatória ser de 12 anos». Neste último caso, o argumento é absolutamente ininteligível: se a escolaridade obrigatória é de 12 anos, se um aluno chumba no 9.º ano, «o que se lhe faz»? Bom, talvez admitir que ele não estava preparado para o «novo ciclo» e que terá de se esforçar mais. A ideia de se «esforçar mais» há-de parecer paradoxal, porque o discurso da novilingua pedagógica tem desculpas para tudo; e o «chumbo» há-de parecer «traumatizante». A mim parece-me traumatizante ler de vez em quando os estudos sobre iliteracia.