PORMENORES, 2. Vital Moreira lembra, a propósito desta questão, dois outros pormenores. Vamos a eles. Em primeiro lugar, cita a «visão negacionista da identidade palestiniana» como exclusiva da «extrema-direita israelita», e que estaria contida nas frases citadas pelo Alberto Gonçalves, para que eu chamei a atenção. Meu Caro Vital Moreira: não me parece. Essas frases estão correctamente citadas e as suas fontes correctamente identificadas; cada uma delas tem, digamos, um autor. Esse é um ponto a que dificilmente fugiremos ambos. Não vejo ali nenhum autor cuja origem seja a extrema-direita israelita. Pelo contrário, alguns deles ocuparam depois cargos importantes quer na estrutura dos movimentos palestinianos, quer na Liga Árabe, quer em estados vizinhos de Israel (não menciono Bernard Lewis nessa lista). Essa visão negacionista da autoridade palestiniana não é exclusiva da «extrema-direita israelita»; foi nela que se fundou outro maior negacionismo, o do próprio estado palestiniano, que os estados árabes vizinhos se recusaram a autorizar em 1948. Curiosamente, essas posições mantêm-se até pouco depois da fundação da própria OLP. Onde se prova que a lógica dos partidos haredim, da direita ultra-ortodoxa israelita (e que já aqui comentei, critiquei e por aí fora), do Shaas ao PNR/NRP, é muito semelhante à dos autores dessas frases. Mas onde se prova exactamente o contrário, numa lógica perversa, que é aquela que tem comandado os debates sobre o caos do Médio Oriente: os autores dessas frases deram ideias aos partidos haredim, ao Shaas e ao PNR/NRP.
Em segundo lugar, meu Caro Vital Moreira, há como que uma não-referência, no seu comentário, e que pode parecer coisa ligeira e anedótica; mas não é: ao referir a tentação do Grande Israel, que os finais da década de sessenta reabilitaram (escuso de citar textos anteriores deste blog), depois da Guerra dos Seis Dias, esquece que é esse mapa, precisamente, o símbolo do estado palestiniano em documentos oficiais, na farda de Arafat, em sites da internet, nos textos da OLP e de muitos documentos da AP: um território que vai do Jordão ao Mediterrâneo.
Nisto, cairíamos na chamada elocubração adversativa, ou seja: nunca citaríamos um argumento sem que o outro dissesse, logo a seguir, «sim, mas o contrário também existe», e assim por uma larga eternidade, que é o tempo em que já deveríamos ter concluído essa «discussão despreconceituosa do conflito israelo-palestiniano», como escreve. Não se pode é, creio eu, invocar o mal de um só lado quando se fala deste assunto. Isto, podemos dizê-lo em qualquer lugar de Israel.
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