BERNARD LEWIS, 1. Já tinha mencionado esta entrevista de Bernard Lewis à Folha de São Paulo (revista Mais!), por Eduardo Szklarz; alguns extractos (não está online):
- Que conclusões podem ser tiradas a partir dos atentados ocorridos em Madrid?
- Tenho medo de que pessoas no Oriente Médio tomem esses acontecimentos como uma vitória dos terroristas. Já vimos isso quando os israelitas se retiraram do Líbano. Temo que essas pessoas vejam nas eleições espanholas a seguinte resposta aos terroristas: «Tudo bem, faremos o que vocês querem, apenas nos deixem em paz.»
- Até que ponto grupos como a Al Qaeda e o Hamas são partes do Islão?
- Hitler e os nazis não foram partes do cristianismo, mas certamente eram partes da cristandade. Eles governaram num país cristão, numa sociedade cristã. Creio que esses grupos são islâmicos nesse sentido. Ao tratar do Islão, estamos falando de catorze séculos de história, mais de 1,3 biliões de pessoas e 57 países, além de minorias importantes em Estados não-islâmicos. Por isso, é difícil fazer declarações genéricas. Mas concordo que a maioria dos muçulmanos não é fundamentalista, a maioria dos fundamentalistas não é terrorista, mas a maioria dos terroristas é muçulmana actualmente. Muitos perguntam: «Por que você os chama de terroristas islâmicos e não chama os bascos e os irlandeses de terroristas cristãos?» Porque os bascos e os irlandeses não reivindicam estar lutando pela cristandade. Se eles dizem que estão cometendo esses actos em nome do Islão, isso é o que os média correctamente relatam.
- Como tem agido a imprensa na cobertura do terrorismo?
- A imprensa nos dá uma gama muito ampla de respostas, mas eu diria que muitas delas estão ajudando e incentivando os terroristas, ao dizer a eles que estão ganhando. No caso do Iraque, tudo de mau que acontece é reportado prontamente e em detalhes. Mas a imensa melhoria do Iraque, que inclui serviços públicos e educação, quase não é mencionada por grande parte dos média.
- Existe a possibilidade de que o ayatollah do Iraque chegue ao poder justamente por meio da democracia. Os EUA se veriam, então, diante de um novo Irão?
- Esse é um perigo. Mas deixe que eu me expresse desse modo: democracia é um remédio forte que deve ser dado em doses pequenas e graduais. Se der uma dose grande muito rapidamente, você mata o paciente. Democracia requer habilidade, experiência e todo o tipo de técnicas totalmente desconhecidas na maioria dos países do Oriente Médio. Não há sentido em já ter eleições num país que nunca teve procedimentos eleitorais. Ter eleições livres e justas não é a inauguração, mas a culminância do processo democrático.
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