CARTAS DO BRASIL: LULA. Não, não vou dizer que Lula faz bem em fazer o que faz, e que é pragmático e que faz cedências. Tudo o que está a passar-se no Brasil estava já inscrito nos últimos dias da campanha Lula-Serra. Vão ver, passado ano e meio. Nessa altura, num texto do JN, escrevi «oxalá me engane» (acerca dos planos do PT, das suas alianças, dos planos de propaganda, do «Fome Zero» inútil e invisível) -- tinha sido a apoteose da «patrulha ideológica» local, quando todo o PT e «pessoal das artes» tentou exterminar aquela actriz de telenovela, Regina Duarte, que disse temer, mais do que a eleição de Lula, a subida do PT ao poder; ela limitara-se a comentar, no fundo, as declarações entusiastas de Heloísa Helena, por exemplo, que já durante a campanha disse esperar o Brasil emitisse um mandato de captura internacional contra o FMI. Luciana Genro e o deputado Babá foram apenas aditamentos que foram crescendo na imprensa. A imagem messiânica que toda a esquerda projectou em Lula foi uma injustiça para o próprio Lula: ele estava encarregado de realizar, no Brasil, aquilo que a esquerda tinha falhado noutros países. Era mais do que responsabilidade: era o pedido de uma redenção que os dias actuais demonstram ser impossível. E, como escrevi ontem, o que a esquerda pede a Lula é que reaplique algumas das receitas da ditadura de 64.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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