abril 21, 2004

FUTEBOL, 2. Quem andou na imprensa desportiva (eu fui director de um diário desses, já agora) sabe que o fenómeno se alimenta de si próprio, mas nunca se devora totalmente; caso contrário, o negócio desaparecia. O negócio da imprensa desportiva não é o da informação, em linhas gerais; é mais o da emoção das primeiras páginas. Discuti bastantes, e havia sempre argumentos imbatíveis: a percentagem de encarnado na primeira página, a percentagem de verde e de azul. É um negócio flutuante que conhece os seus limites e constrói as suas estratégias ao milímetro. Nessa imprensa, há verdadeiros génios que conhecem o valor de um ponto de exclamação, de uma letra que seja, de um pequeno empate.
Nesse campo, o negócio está a correr menos bem para o papel impresso. Se o Benfica fosse campeão, haveria mais vendas de jornais; é uma lógica inacessível a espíritos elevados, mas (pese a repetição) inegociável; quando os números descem, é necessário fazer alguma coisa para mudar a realidade. Daí, tirem-se conclusões precipitadas à vontade, que são as únicas que convém tirar. Pensar muito no assunto é capaz de fazer mal, e o melhor é nunca deixar que a verdade (mesmo a vulgar «verdade desportiva») estrague um bom número.