LIBERDADE. Como acontece aos domingos, crónica exemplar de António Barreto no Público; uma passagem: «"Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril!" "Isto" pode ser tudo. A evasão fiscal, os carros dos ricos, as filas de espera nos hospitais, a pobreza, as propinas universitárias, os incêndios das florestas ou os imigrantes clandestinos. Acontece que foi exactamente para "isto" que se fez o 25 de Abril. Fez-se o 25 de Abril para poder pensar, falar e amar em liberdade. Para escolher quem nos representa. E para derrubar quem nos governa mal. Nesse sentido, Abril está cumprido. Apesar dos que, depois de terem falhado durante cinquenta anos o derrube da ditadura, tentaram confiscar o movimento libertário. E não obstante haver quem queira "aprofundar Abril" ou "cumpri-lo integralmente". Deus nos livre!...
É verdade que muitos dos que o fizeram, e todos nós hoje, temos outras ambições. Queremos uma justiça decente e uma saúde eficiente. Boas escolas e melhor segurança social. Mais cultura e mais produtividade. Uma direita liberal e uma esquerda inteligente. Mais igualdade social, mais oportunidades e um lugar mais destacado ao mérito. Menos compadrio, menos corrupção, menos complacência. E mais brio para um país que o tem pouco. Quero, queremos muito disso. É possível que alguns militares de Abril e não poucos civis do mesmo mês e dos seguintes o quisessem também na altura. Mas o 25 de Abril não se fez para isso. Fez-se para isto. Para ter êxito e para falhar. Para ouvir disparates e rasgos de inteligência. […]
E se é verdade que a maior parte dos jovens não sabe o que foi o 25 de Abril, o que choca não é isso, mas sim a confrangedora falta de cultura. Também não sabem o que foi o 28 de Maio, nem o 5 de Outubro. Não sabem quem foi Oliveira Martins ou Guilhermina Suggia. Não sabem quem foram nem o que fizeram Fontes Pereira de Melo, Guerra Junqueiro ou Egas Moniz. Como não sabem o que é o genoma, nem quem foi Galileu. Curiosamente, os pais também não.» [António Barreto]
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