maio 23, 2004

BEBER, NÃO BEBER. A história de Lula e do NY Times continua a fazer chegar mails de vez em quando. Um deles (Nuno M.) pergunta: «E por que é que acha que Lula faz bem em beber?» Não faço a mínima ideia; mas incomodam-me os ascetas da política, os moralistas da vida pública. A explicação não é razoável, eu sei, mas a verdade é que todos os ditadores de todas as tendências eram muito moralistas e ascetas, Hitler proibiu o tabaco, o «puritanismo» (a designação não é a mais correcta, eu sei) encheu-nos de pecados sociais. Se Lula bebe, é com ele. Desde que não caia redondo a meio de um dos discursos cheios de vento, eu acho que ele tem direito aos seus três whiskies diários e aos dois charutos digestivos.

Outro mail (António) é mais claro: «No mesmo "post" em que se irrita com a falta de precisão do jornalista do Público, desculpa um outro, este do NYT, que insinuou que o presidente é alcoólico -- no mínimo, é deselegante, a não ser que seja um facto provado e relevante para a notícia que se quer dar. Sinto que para si é muito mais cara a notícia de um Lula da Silva reconhecidamente bêbado que a do pedido de desculpas por parte do jornalista que insinuou isso.» Acho que estamos a falar de coisas diferentes: Larry Rhoter não inventou nada, a atracção de Lula pela bebida é conhecida e normal (Luis Fernando Verissimo escreveu esta semana sobre o assunto; nenhuma coluna bem informada da imprensa desmentiu a existência desse facto -- apenas não o elegeu como problema); há, é claro, a ideia de que essa atracção «é coisa do terceiro mundo, vejam lá, gente que bebe», mas isso é do domínio da minha interpretação. De resto, insisto: ao contrário do que diz a imprensa portuguesa, não houve nenhum pedido de desculpas do NYT. Tudo isso tem servido para brincadeiras, apenas isso (o Estrada do Coco publica alguns dos melhores cartoons sobre a história).
Conforme se tem discutido na imprensa e na blogosfera, houve -- sim -- uma intervenção editorial estranha ao próprio jornalista: o título («a mania de beber do presidente transformou-se em preocupação nacional») é obra dos editores e não de Rhoter.