maio 05, 2004

LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL. Recebo um poema de Paulinho Assunção (obrigado!): «todos os dias/ tomo de assalto o idioma,/ eis a minha guerrilha,/ dele tudo quero, o novo/ e o velho, o sabor/ e o aroma,/ em Portugal ou Macau,/ Madeira ou Angola,/ em Moçambique ou Guiné-Bissau,/ do idioma tudo quero e/ a ele tudo dou,/ palavras antigas/ que recolho a anzol,/ novas palavras ainda/ larvas, ainda lêmures,/ limbo de vocábulos, trevas/ de libélulas,/ sóis e luas de palavras,/ todas eu quero, a/ todas eu me dou, todas/ eu ponho qual/ poria a fruta entre o céu/ da minha boca e/ a língua da sua língua, / qual poria a boca em/ outra boca, escrevo-as/ como quem beijasse/ e beijaria, escrevo-as/ como quem beija,/ fricativos beijos, labiais enguias,/ escrevo-as/ como quem procria,/ minha língua portuguesa,/ minha língua brasileira,/ minha angolana língua,/ minha dama,/ namorada e menina,/ festim e banquete/ da folha em branco/ do papel que é barco/ e é barcarola, que é/ caravela, que é pássaro e é pólen/ ao vento e à ventania,/ minha língua na sua/ língua, sua língua/ na minha língua, tupi/ nas águas do Tejo, banto/ na foz do Amazonas, adagas/ árabes nas consoantes,/ concertino de dizeres sefarditas/ nos quintais de Minas, dizeres/ maxacalis nas ruas de Maputo,/ língua, sua língua,/ minha doce fera, onça,/ onça latina,/ todos os dias / tomo de assalto a minha língua/ assim como quem sonhasse,/ como quem sonha e sonharia.»