maio 09, 2004




MACHADO DE ASSIS. De cada vez que tenho de falar de Machado de Assis, penso na ideia de um romance moderno. Memórias Póstumas de Brás Cubas abriu em português o caminho para a idade moderna da literatura de ficção. Ninguém leu, como Machado, as consequências de Tristram Shandy. Garrett pode ter lido Sterne, sim; mas A Brasileira de Prazins, de Camilo, é o mais «shandyano» dos nossos romances: ora faz relatos de tiroteio, ora chora com Marta, ora se mete pela História, ora dá conta de si como narrador e desata a rir.
O Estrada do Coco começou a publicar extractos das Memórias Póstumas, dando razão a Paulo Francis que recomendava: «Leia alguns dos romances de Machado de Assis. O mais brilhante é Memórias Póstumas de Brás Cubas. Para estilo, é o que se deve emular. O coloquialismo melodioso e fluente de Machado. É um grande divertimento esse livro.» Harold Bloom chama-lhe «génio da ironia»: «Machado é uma espécie de milagre, mais uma demonstração da autonomia do génio literário em relação a factores como tempo e lugar, política e religião, e todo o tipo de contexto que, supostamente, produz a determinação dos talentos humanos.»