junho 27, 2004

BOM MOTIVO, MAU MOTIVO. Vital Moreira encontra um bom e um mau motivo para convocar eleições antecipadas. O primeiro motivo, o mau, é o que decorre «dos sistemas parlamentares de governo» – não faz sentido pedir novas eleições porque existe a «possibilidade de formar mais do que um governo dentro do mesmo quadro parlamentar». Seria o presente caso: a base parlamentar existe. O segundo motivo, o bom, «consiste em sublinhar que a formação de outro governo do PSD sem novas eleições significaria premiar indevidamente um partido cujo líder abandonou o cargo, desrespeitando o compromisso político com os eleitores, em troco de um lugar externo». Sendo assim, as eleições antecipadas serviriam também para castigar o partido – ou «quadro parlamentar» – que foi derrotado a 13 de Julho, em eleições que não têm nada a ver com o assunto. Nesse caso, a reacção de Jorge Sampaio teria de ser mais do que uma amostra daquela indignaçãozinha de quem descobriu que está a ser ignorado ou que a vida política pode «decorrer» independentemente da sua presença ou da sua ausência.
Depois da sua reacção diante das câmaras de televisão, o dr. Sampaio poderá convocar novas eleições – ou nomear Santana Lopes, mostrando que, pura e simplesmente, gosta de se indignar para mostrar que está ali.
A questão política (eu sei: boa para especulações e para analistas) é que um eventual governo de Santana Lopes não seria o governo nascido do quadro eleitoral anterior – a prova está na reacção de Manuela Ferreira Leite, por exemplo. Ou seja: Santana Lopes formaria um governo do PSD, mas com base num programa inteiramente diferente daquele que o «quadro parlamentar actual» validou, aprovou e defendeu. Eu sei que é o mesmo partido. Mas é outro partido.