junho 10, 2004

CERVEJA. O F. Curate, no Daedalus, é um conhecedor de cerveja e mencionou a coluna que sobre o assunto mantenho na Grande Reportagem. Justamente, em Dia de Portugal recebi um mail sobre uma das últimas recomendações (suponho que em relação à Golden Gate; segue-se a Bohemia Weiss, que é francamente um achado), apelando ao meu patriotismo: como português eu devia defender o consumo de vinho e não de «uma bebida alemã». Pobre patriotismo que precisa de tintos para gritar «Arraial, arraial, por el-rei de Portugal!» Ora, eu não defendo o consumo de nada, mas recordo aquele período (um dos mais ridículos da história mental portuguesa) em que se discutiam os níveis de alcoolemia aos volantes lusitanos; alguns dos participantes no «debate» vinham para os jornais dizer que era preciso ter em conta «a tradição portuguesa de beber vinho» para discordar do projecto do então ministro da Administração Interna, Nuno Teixeira -- depois assassinado, à traição, como se tornou costume, por António Guterres. Outros vinham atacar os «cervejófilos», porque o consumo de cerveja seria um ataque frontal à economia portuguesa, onde o vinho continuava «a dar de comer a um milhão de portugueses», como no tempo do dr. Salazar. Tamanha desgraça foi outra das imagens do patrotismo português de pacotilha.