junho 11, 2004

NACIONALISMO BARATO. O sociólogo Carlos Fortuna, citado pelo Público e pela Lusa, diz que a onda de bandeirame suspenso nas janelas portuguesas, a propósito do Euro 2004, revela um «nacionalismo barato, imediatista e pouco consistente». Com certeza. Mais: «Face à consciência nacional de um défice de resultados positivos [do país], os portugueses querem sucesso rápido, breve e imediato, e o futebol resolve-se em 90 minutos.» Para o sociólogo, existe em Portugal um «défice de nacionalismo e de auto-estima». Estas coisas são óbvias, quase lugar-comum, e por isso mesmo devem ser discutidas. A euforia planetária em redor do futebol causa arrepios, evidentemente – mesmo através da RTPi –, e provoca enjoo rápido. Mas isso é o próprio «evento» em si mesmo, com a sua carga pesada de maus repórteres, de más reportagens, de banalidades, de excesso, de omnipresença, de fadiga acelerada. O «nacionalismo futebolístico», a meu ver, tem outra explicação e não tem a ver com «a fome de sucesso»: se Portugal fosse um país rico, a euforia futebolística sentir-se-ia na mesma, haveria bandeiras na mesma (provavelmente não a 1 euro, claro) e excesso de paixão popular. A popularidade do futebol não tem a ver exclusivamente com a «frustração nacional». E esse défice de «auto-estima» é gerado mais pelas boas consciência pátrias – que gostavam de ter outro país – do que pelos portugueses propriamente ditos (eu, por exemplo, não gosto lá muito da bandeira portuguesa, mas isso é outro problema). Claro que seríamos mais civilizados se não houvesse presidentes da Câmara como Ferreira Torres ou processos em atraso nos tribunais, se as escolas funcionassem melhor e os políticos usassem melhor ortografia. Eu sempre escrevi contra a hipótese de realizarmos o Euro’2004 em Portugal, mas já o temos à porta. Agora é jogar. E pendurem bandeiras onde lhes apetecer. Quem quiser, evidentemente. A frustração poderá ser maior, mas há hipóteses, há hipóteses…