junho 25, 2004

PATRIOTAS DE TRAZER PELA TRELA. Depois de ler os textos editoriais da imprensa desportiva (a maior parte, confesso), e sem ser da imprensa desportiva, sobre a Pátria e a vontade de vencer, o desígnio inquebrantável e o mérito e a convicção, os condestáveis de Portugal e os corações de leão, a mais velha aliança e a perfídia dos adversários, o querer inabalável e a confiança fantástica, o génio lusitano e o imparável arreganho [sic] das nossas tropas, das falanges verde-rubras -- e tudo isto a propósito de um fantástico jogo de futebol --, só vejo duas hipóteses: 1) enviar-lhes um frasquinho de Dimicina ou Ultra-Levur, para deter a incontinência que parece estar fora de controle; 2) erguer um monumental manguito a essa fauna.
Eles têm uma enorme capacidade para estragar qualquer jogo de futebol. Nestas alturas, releio aqueles textos de Nelson Rodrigues sobre as vitórias brasileiras (nomeadamente de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile) e anoto as diferenças. Ah, patriotas de trazer pela trela, não vos basta que os rapazes marquem golos e que joguem como jogadores, que as vitórias sejam saborosas e merecidas.Não vos bastam as bandeiras, o entusiasmo, a criancice, até o deslize, a paixão, o encantamento. É preciso estragar tudo logo de seguida: quantas das vossas lágrimas são a merda de Portugal.