julho 29, 2004

HAVERÁ UMA SOLUÇÃO LIBERAL PARA A PAZ PERPÉTUA? O Causa Liberal interroga-se, em dois textos, sobre a tentação humanitária de intervir no Sudão. São dois textos com inquietações legítimas e, portanto, mencionáveis.
«Nota: a cartada humanitária é – exagerar o problema, meter-se nos assuntos dos outros e criar ainda mais problemas à pacificação local, disfarçar outros factores geo-estratégicos em jogo, até que a situação se agrava mais do que seria na sua ausência e tornando o intervencionismo "inevitável" para todos.»

«Quanto ao Sudão, aos poucos, devagar devagarinho, vai crescendo o "consenso" para uma nova emergência. Mais um motivo para justificar que a ONU ou a "comunidade internacional" actuem para promover um qualquer bem e impedir um qualquer mal, que "não sei quem" destrua "não sei quem" por causa de "não sei o quê", ou ainda pior, que alguém impeça a chegada de ajuda humanitária decidida por um qualquer burocrata a precisar de ser promovido para um órgão internacional.»

«Por exemplo o Kosovo. Existe quem fique orgulhoso por uma paz só se manter com as armas e que mal estas retirem, os problemas retomem exactamente onde estavam ou provavelmente ainda pior. Nos Balcãs, tentam o mesmo há centenas de anos, foi lá que a Europa começou a ser destruída.»

Admito com facilidade este tipo de inquietações. Mesmo sendo verdade que a barbárie do Kosovo não terá fim nas próximas décadas, o que me assusta é a fragilidade dos mortos indefesos do Sudão só porque não são árabes ou muçulmanos ou são uma pequena peça desagradável na região. Assustam-me os campos de concentração onde ninguém pode vislumbrar, creio, uma ideia de «pacificação local». Tal como me assustavam os massacres no Kosovo, cuja forma de «pacificação local» seria a eliminação sucessiva e contínua de alguns milhões de europeus que a Europa se mostrou incapaz de defender.
Há países em que uma intervenção militar estabeleceria um mínimo de civilização, de tal modo estão entregues à barbárie e à «pacificação local». Mas esta ideia é de uma vastíssima falta de propósito, reconheço.