MADEIRENSES NO EXÍLIO. O livro de Ferreira Fernandes sobre a diáspora madeirense depois da perseguição religiosa aos presbiterianos, Madeirenses Errantes (edição Oficina do Livro), é seguramente um dos livros do ano. Em meados do século dezanove (tudo teria começado na década de quarenta) muitos madeirenses escaparam à sua ilha e passaram para as Caraíbas, atravessaram as Américas, chegaram ao Havai, no Pacífico. E se a Inquisição tinha sido abolida há anos, a verdade é que, na origem desta fuga, esteve a perseguição religiosa – eles eram protestantes, ou pelo menos tinham acabado de converter-se ao protestantismo. É uma história espantosa, essa, de madeirenses perdidos no mundo. As pequenas narrativas sobre a família Mendes, de Trinidad, são dignas de serem lidas e relidas -- desde Alfie Mendes, um dos escritores mais importantes da zona (juntamente com V.S. Naipaul ou Derek Walcott, ao que dizem os manuais), até Sam Mendes, o realizador premiado com o Oscar (e ignorante o suficiente para desconhecer a história da sua família: «Derek Walcott told someone that Alfie Mendes' grandson was doing great things in London», escrevia o The Guardian em Fevereiro de 2000). Depois, a chegada dos protestantes madeirenses a Nova Iorque, a sua partida para o Illinois (e o encontro com Abraham Lincoln). Se puderem, leiam. É absolutamente brilhante: os inquisidores madeirenses ardem nestas páginas (o bispo D. Teodoro Faria pediu desculpa aos presbiterianos século e meio depois), reconstituem mais um período de fogueiras religiosas. E deliciem-se com o rum Fernandes, de Trinidad, uma das criações madeirenses em Trinidad & Tobago (uma das grandes aquisições da Baccardi, já agora...).
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