julho 24, 2004

A NOITE, O QUE É?, 46. A noite demora a chegar, quando me levanto de madrugada para escrever, trabalhar, pequenas anotações meteorológicas, gotas de água na erva, ruídos de carros que passam na estrada. A madrugada substitui a noite, quando fico desperto pelas horas mais escuras. Cheiro de terra molhada, cheiro de café pela noite dentro, mosquitos que vagueiam, em ondas, depois substituídos pelas borboletas da madrugada. E também madeira salgada do salitre, ouriços, a costa africana, romances do século XIX, opúsculos sobre a ocupação da terra, postais ilustrados comprados numa feira, o vento de ontem à noite, arrancando as folhas da amendoeira, faíscas no céu, alguma coisa cheia de descrições, sistemas solares, azulejos. Acordo cedo, pés no chão morno, restos de chuva; vejo isso todos os dias, todas as manhãs, enquanto não vem a noite seguinte, esperando. Para isso serve a noite, para esperar.