julho 30, 2004

OLAVO BILAC. «Onde estão elas, as flores de antanho?», perguntava-se Brás Cubas através de Machado de Assis. Lembro-me sempre de Bilac e do seu poema sobre a Língua Portuguesa. Não nos faz mal um pouco de parnasianismo.


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela ...

Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: «Meu filho!»
E em que Camões chorou, no exílio amargo
O génio sem ventura e o amor sem brilho!


Olavo Bilac, 1865-1918. Poeta brasileiro.