ORTOGRAFIA. [Actualizado] José Vítor Malheiros, autor do texto «Ortografia» do Público desta manhã, tem toda a razão. A televisão (nomeadamente a televisão pública, infelizmente), usa e abusa de erros em legendas e rodapés. Mesmo na comunicação institucional das empresas os erros ortográficos são vulgares. Nos manuais escolares, já aqui em tempos se fez uma relação desses erros. Durante muito tempo, os linguistas acharam que isso não tinha importância -- porque «desde que se comunicasse», o problema estaria resolvido. Temo muito que estejamos a formar uma pequena geração de analfabetos e de gente desinteressada. Em tempos escrevi no Aviz que isso se deve, também, ao facto de «a “classe educada” portuguesa ter abdicado de si mesma e ter abdicado de pensar e de ser exigente. Baixou o nível de exigência nas escolas, aceita sem pestanejar as idiossincrasias de uns cavalheiros que se permitiram gastar milhares de contos para elaborar um dicionário da Academia que rejeita valores e tesouros da nossa língua para passar a ser um saco onde cabe todo o linguajar, desinteressa-se dos resultados do ensino da Matemática e do Português, tornou-se vulgar e medíocre, acha que Bach é uma excrescência inútil, que não vale a pena ler Cesário ou Camilo às criancinhas».
Temos nas mãos uma geração de líderes se contenta em falar e escrever mal o Português, em se desculpar do seu défice de conhecimentos e em parecer muito moderna e contente.
Convém relembrar que, há uns anos, em plena euforia da linguística teórica nas universidades e escolas secundárias se criou a ideia de que a “língua escrita” era secundaríssima. Passava-se todo um trimestre (ou mesmo um semestre) explorando, com êxtase e delírio, as virtualidades técnicas de uma frase como “O João joga à bola”. O que era importante era a “língua oral”, ou seja, a língua tal & qual se fala – e havia mesmo rumores contra os exemplos fornecidos pelas gramáticas mais sérias (como a de Lindley Cintra e Celso Cunha, vale a pena dizer) para explicar o funcionamento da nossa língua. Que não: que aquilo era literatura e que a literatura não tinha nada a ver com a “nossa língua”, ou seja, a língua tal & qual se fala. O resultado parece mais ou menos evidente, e convém, neste caso, generalizá-los – para que se discuta, de uma vez por todas, o problema do ensino do Português e da literatura portuguesa nas nossas escolas. Parece que os estudos existentes já deram o alarme e fornecem números sinistros sobre iliteracia real, analfabetismo prático e fenómenos parecidos. Mas nada interrompe a tranquilidade dos técnicos e especialistas na matéria. Sobretudo porque qualquer medida mais drástica há-de acabar por gerar conflitos insanáveis na sagrada confraria que, nesta matéria, tem dominado o Ministério da Educação. Não é admissível que não tenham sido tomadas, até hoje, medidas sérias para evitar que, no futuro mais próximo, a nossa língua se transforme numa velharia obsoleta e sem regras. Um ensino do Português com tons mais permissivos, preguiçosos e envergonhados não há-de produzir bons falantes da nossa língua, nem bons leitores dos textos da nossa língua, nem sequer gente capaz de escrever – com clareza e rapidez – uma frase decente. O Ministério da Educação devia pensar nisso, com urgência, e as televisões deviam ser vigiadas de perto para não ser possível aparecerem legendas com erros ortográficos na nossa língua.
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