agosto 23, 2004

EMIGRANTES E PORTUGUESES. Já vão longe os tempos em que a selecção nacional de futebol tinha um treinador que achava que havia «portugueses legítimos» e «os outros». Depois, gerou-se a «questão Deco» em torno da bandeira das quinas e das cores da camisola. Agora, Obikwelu. A minha opinião sobre o assunto já foi publicada várias vezes, quer aqui quer noutros lugares. E sobre a política de emigração já escrevi qb.
É evidente que futebolistas não são emigrantes. Mas há uma questão curiosa sobre Obikwelu que acaba de ser colocada pelo Paulo Gorjão:
«Deixo aqui uma perguntinha para algumas pessoas que hoje estarão a celebrar orgulhosamente a medalha de prata de um português na final de 100 metros, nos Jogos Olímpicos de Atenas. Na actual moldura legal, que apenas permite a entrada de cinco mil e tal imigrantes por ano, será que alguma vez Francis Obikwelu teria tido hipótese de vir para Portugal e, mais tarde, de se naturalizar português?»
Obikwelu não veio para ser atleta olímpico português; veio trabalhar nas obras num país considerado «um dos menos receptivos a acolherem cidadãos emigrantes». Por isso, quando vejo almas justas e vozes sensatas reclamar esta «vitória portuguesa em Atenas», também sorrio como o Paulo, embora por razões um pouco diferentes.