agosto 23, 2004

OBIKWELU. O fenómeno Obikwelu despertou um debatezinho (ainda) sobre o que é a condição nacional. Parece-me que esse debate faz falta depois da onda patriótica de Junho passado. [A propósito, o Paulo acha que as suas razões não são muito divergentes das minhas; nem as minhas das suas, está claro.] Mas seria bom fazer o levantamento das dúvidas que se levantam pela imprensa e nos blogs sobre o portuguesismo desta vitória, e que me parecem patetas e patéticos. Mas a minha surpresa maior veio quando, hoje, me mencionaram, de novo, a qualidade de «português legítimo», ou seja, sanguineamente irrepreensível. Não sei o que isso seja; nesse caso, se alguma vez essa ideia voltasse ao discurso oficial, eu gostaria de ser sanguineamente repreensível e que me retirassem compulsivamente a nacionalidade.
Depois, há outro debate, «muito pedagógico» (como agora se diz...): a ideia de hospitalidade. A Maura Paoletti tem vários exemplos publicados no seu blog (certamente pouco comoventes) dos tempos em que viveu em Portugal. Mas há mais, na blogosfera e fora dela. Quando, há tempos, mencionei aqui a expressão «pois tu foste estrangeiro» a propósito da forma como são recebidos muitos emigrantes em Portugal, a citação bíblica significa um imperativo moral muito elevado. Não deve ser interpretada apenas no interior de uma condição cívica. É um dever moral, o da hospitalidade. E o nacionalismo raramente foi produtivo, inteligente ou justo.
P.S. - Obikwelu escolheu ser português, o que devia ser discutido também. É claro que Derlei vai ser português mais tarde ou mais cedo; mas aí, como assinalei, há outros interesses envolvidos.