agosto 06, 2004

ORTOGRAFIA, CAIXA DE CORREIO, 1. O Mário Filipe Pires, do Retorta, por mail, comenta a questão ortográfica (que, para mim, de resto, é mais vasta do que a ortografia; diz respeito à expressão em Português):
«Tenho acompanhado a troca de correio acerca da ortografia e do português com bastante interesse. Devo o meu gosto pela leitura a dois factores, a existência de um numero razoável de livros em casa dos meus pais, e um professor de português, que conseguiu interessar toda uma turma nas questões da lingua e dos textos. Refiro ainda que no Liceu Pedro V de 1975 isto não é um feito menor. Infelizmente já não me lembro do seu nome, mas ainda me recordo que já teria pelo menos umas cinco décadas de vida, e que trajava quase sempre casaco, laço e colete, o que naquelas circunstâncias seria meio caminho andado para ser catalogado como fascista.
Utilizando apenas o seu entusiasmo e os livros do programa da altura, conseguiu cativar uma turma inteira, que nas suas aulas prestava realmente atenção ao que ele dizia. Com ele os livros não eram letra morta. Foi também o único com quem insistimos em almoçar no final do ano lectivo. É um facto para mim que o português dos clássicos é algo que deve ser visitado regularmente, mesmo que já seja necessário existirem notas explicativas para termos ou frases. Sem conhecer bons exemplos e diversos estilos narrativos empobrecemos a nossa escrita e fala. Ninguém escreve hoje com o estilo de Eça de Queirós ou Gil Vicente, mas o facto é que continuamos a retirar prazer da leitura dos seus textos. Independentemente disso, quando se ganha o hábito da leitura, mesmo que estas sejam inicialmente menos interessantes, tenho esperança que se vá desenvolvendo um crivo crítico em cada pessoa. Quanto ao ensino do português o assunto é complexo, mas aquelas mudanças do acordo ortográfico não foram inocentes e levantam muitas questões em termos de ensino inicial.»