agosto 06, 2004

ORTOGRAFIA, CAIXA DE CORREIO, 2. O José Flávio P. Teixeira, de Moçambique (onde mantém o Ma-Schamba), comenta também por mail a questão do Português:
«Apreciável polémica essa, a ortográfica. Eu faço erros ortográficos, o que é algo tão pouco assumido como a impotência sexual – estou a sair do armário. Ainda assim, escrevo sem corrector, nunca o instalei. Serão poucos, mas estão lá. Mas esse não é o problema. O ensino que tive foi o pós-25 de Abril, 4.ª classe em 1974. O que me faltou aprender foi sintaxe. Ao reler o que escrevo até tremo. E nisso não estarei sozinho, há por aí muito teclado que ainda vai pior. E disso pouco se fala. E como sintaxe é a inteligência aqui é que vai o mal, diz o leigo nessas coisas.
Não percebo isso de Os Maias. O livro é giríssimo e tem algum sexo, até incesto, e é cinematográfico, ou seja imaginável. Que mais se pode pedir? A Cidade e as Serras é uma chatice para o seculo XXI (além de que as serras já arderam todas; para quê imaginar as suas belezas?). No meu 11º ano, como já tinha lido Os Maias foi só relê-los e brilhar. Isto vem a propósito do que era também obrigatório, aqueles clássicos que francamente: nem li as Viagens na Minha Terra, meu Deus que absurdo (só lá cheguei nas antropologices de olhar os românticos e etc.), nem os Herculanos (O Bobo e Eurico, o Presbítero - li-os depois e são uns pastéis, ainda para mais para quem passou pelo Walter Scott ou até Feval e Dumas na puberdade) nem mais qualquer coisa que havia. Deu para dispensar. Pois aquela primeira parte do programa, "coisas técnicas", ninguém ligava, nem nós nem a stôra, devido ao primado da literatura. E com este primado há tanta gente que nem cartas oficiais sabe escrever. Maldito primado. Lá na escola nunca li Os Lusíadas (excepto aquelas primeiras páginas do 9º ano). Surpreende-me que se discuta a pertinência de Os Lusíadas no ensino liceal. Será que se estudam mesmo, ou se continua com o singelo início, só para estar no programa? Voltar atrás. A ortografia é grave. Mas pior é não ensinar a sintaxe. Acho eu, mísero antropólogo.
Ah, isso de ler os brasileiros sim. Sim. Sim.»