setembro 13, 2004

ARGENTINA. O João MF perguntava-se outro dia: «Alguém sabe o que se passa na Argentina?» Não era uma pergunta transcendente e tinha a ver com uma pesquisa do Google. Ora, essa é, curiosamente, uma das perguntas mais pertinentes para quem queira entender o tipo de futuro que está reservado aos países do Sul da América. Eu, que gosto de Buenos Aires (e do River Plate), acho que o que se passa actualmente na Argentina é bem capaz de ser uma lição para aprender devagar. Será a «solução Kirchner» um regresso ao passado?
A mitomania e a mania da grandeza das classes tradicionalmente ligadas ao poder (e o «mau governo»), mataram uma parte da Argentina do nosso tempo. Tomás Eloy Martínez, o autor de Santa Evita, um romance sobre Eva Péron e o seu mundo de fantasmas, chamava a atenção para isso há tempos, numa entrevista ao El Pais: «A classe governante com a sua confiança em que o Fundo Monetário Internacional ajudaria sempre a Argentina, perguntava-se: “Como é que vão recusar estender-nos a mão? Somos argentinos, somos importantes.” A revelação mais atroz produziu-se quando veio a queda da Argentina e ninguém se interessou.»

Há uma passagem fabulosa de um dos autores do século XIX, Domingo Augusto Sarmiento: «O mal que marca a República Argentina é a extensão. O deserto rodeia-a por todos lados e insinua-se-lhe nas entranhas.»