setembro 12, 2004

O QUE É A LITERATURA. Houve, este ano, alguma polémica silenciosa à volta da atribuição do prémio máximo Jabuti, o mais conhecido e mobilizador dos prémios literários do Brasil (o segundo, actualmente, parece ser o Portugal Telecom Brasil). Na categoria de ficção, o prémio foi para Budapeste, de Chico Buarque, que ficara em terceiro lugar na lista, atrás de Mongólia, de Bernardo Carvalho (o vencedor, de facto, nessa categoria), e de A Margem Imóvel do Rio, de Luiz Antônio Assis Brasil. De facto, como se compreende que um livro que fica em terceiro lugar na lista de ficção, ganhe depois o prémio máximo? Explicação simples: primeiro, o júri, com inteira liberdade, dá os seus prémios (ao Mongólia, de Bernardo Carvalho, a Poesia Reunida, de Alexei Bueno, a O Voo da Madrugada, de Sérgio Sant'anna, etc.); depois, com idêntica liberdade, a CLB (Câmara Brasileira do Livro, uma espécie de APEL e UEP) elege aqueles que lhe parecem ser os livros que mais podem mexer com o mercado e animar as livrarias. Digamos que se trata de uma ordem suplementar da literatura; mas o jogo é claro e trata-se de uma decisão honesta. Nem sempre é bom para um livro (como acontece com Budapeste), evidentemente, mas ninguém pode acusar a CLB de falcatrua. E toda a gente percebe.