novembro 25, 2004

NUNO JÚDICE. «Foi nisto que acreditei durante alguns anos em que a questão da morte me pareceu fazer parte dos problemas que apenas atormentam a burguesia, que os inventa para alienar os explorados da sua realidade, e da necessidade de romper as cadeias da opressão. Foi isto que aprendi na leitura de Politzer; e só mais tarde descobri que o conceito de alienação, afinal, era um falso instrumento que a leitura dos manuscritos de Marx, de mil oitocentos e quarenta e quatro, desmascarou por completo. Afinal, Marx também tivera a sua fase idealista, e esse idealismo não era incompatível com a Revolução que o Manifesto Comunista de quarenta e sete vinha propor. Podia, por isso, pôr de parte todos os pormenores de uma realidade que envolvia o meu tio-bisavô, o criminoso José Cravo, Marta, que se chamava Júlia, o patrão, a explicadora de francês, a noiva, enfim, todos os protagonistas de um conflito que pouco mais é do que uma gota de água no vasto pano de fundo em que proletariado, campesinato e burguesia se afrontavam no campo de batalha da luta de classes.»
Nuno Júdice, O Anjo da Tempestade. (Dom Quixote)