SEJA SAUDÁVEL, 3. O bom Ricardo Oliveira, por mail:
«Eu até percebo que pessoas que sempre fumaram a vida toda se sintam ofendidas com esta nova lei. (Uma das cenas mais deprimentes a que já assisti foi ver a minha mãe, num Aeroporto qualquer, a querer fumar um cigarro e ter que o fazer num cantinho escondido, juntamente com outros dois criminosos). A verdade é que a vossa indignação, para os não-fumadores (entre os quais eu me incluo), faz tanto sentido como reagirem a uma eventual “Proibição de bater nas pessoas” com um “Claro, não podemos... E qualquer dia nem cuspir podemos. Vêm polícias que nos obrigam a respeitar as pessoas, a não as incomodar. Vai haver agentes que nos impedem de insultar um gajo qualquer...” Garanto-lhe, como filho e irmão de fumadores, que não há nada mais incomodativo do que levar com o fumo de um cigarro. Nem que isso fizesse bem à saúde, quanto mais!...»Caro Ricardo: eu não costumo andar por aí, pelas ruas, pelos estádios de futebol e pelos autocarros suburbanos, a bater nas pessoas. E não me lamento por existir uma lei que me proíba de exercitar os dotes pugilísticos à solta e à vontade. Também não fumo em hospitais nem em escolas. Até me vanglorio, hoje com dúvidas sérias, de na redacção da Grande Reportagem ter sido decretado o fim do tabaco porque havia uma designer grávida (foram os jornalistas, quase todos fumadores, que o decidiram por unanimidade) -- e vínhamos todos intoxicar-nos para o corredor, junto de um cinzeiro que colocámos lá. Também não fumo onde me dizem ser proibido fumar. Nem nos aeroportos nem em casa de amigos não-fumadores (confesso que, neste último caso, me escuso a ir, porque são geralmente pessoas muito impositivas e chatas de aturar). Mas não aceito que me criminalizem e me metam numa «sala de chuto». O que está a acontecer é a crescente criminalização do acto de puxar por um cigarro ou um charuto, em nome de uma moral certamente duvidosa e com certeza hipócrita. A TAP abriu um concurso de pessoal onde dava preferência a não-fumadores; acho isso uma criminalização absurda e ilegal; tenho ouvido falar pouco disso e o sindicato indígena não se manifestou.
Proibir o tabaco em bares e restaurantes é perseguir um dos locais de convivialidade onde, até agora, não havia conflitos de maior; basta existir uma área livre de fumadores e uma área de fumadores onde, depois de jantar, as pessoas possam fumar um charuto ou um cigarro e beber um álcool com o café. Um fumador não é um ser alienígena que está sempre a fumar, mas tem direito a fumar o seu cigarro, a saborear o seu charuto, e a não ser criminalizado por isso. Eu sei que a cocaína é mais clean em matéria de drogas, mas sinusites antigas impedem-me de tentar, lamento; prefiro que me deixem acender um charuto depois de jantar com amigos que não se importam que eu fume. E prefiro chamar palermas (como já escrevi no JN desta quinta-feira) aos autores desta proposta de lei. E, se quer saber, Caro Ricardo, a «nossa» indignação (falo pela minha) para os não fumadores, é o que menos me importa. Ou somos seres civilizados, ou não. Isso começa por uma palavra tão simples como liberdade. Por que será que tantos têm tanto medo dela?
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