dezembro 18, 2004

HIPHOPCONDRIA. Pois é, caro Paulo. Ainda um dia destes falávamos sobre o que é e o que não é política, a propósito do que é a esfera privada da vida dos políticos -- e, inclusivamente, sobre o que, da esfera privada, resulta ter uma dimensão política. E, tendo uma dimensão política, tem sempre, necessariamente, uma dimensão pública. Ora, o que me parece que te irritou nessa história publicada pelo Expresso foi, antes de mais, o facto de ter sido publicada pelo Expresso. Soa a vendetta. Acho que sim, é bem provável -- mas é bom que aprendam que até os canais de fuga de informação do gabinete do primeiro-ministro têm de ser credíveis ou não tão falseáveis. Mas essa história, que a Grande Loja publicara, que corria por todos os bares da capital e que provocava alguma risota (justificada, diga-se de passagem), é inequivocamente uma história política. Não só por complicar a vida do trânsito em NY ou em S. Bento -- mas também porque prova que não basta ser primeiro-ministro, é necessário parecê-lo. O poder tem um preço; é, provavelmente, uma lei aborrecida e disparatada para certas almas. Mas o facto é que tem um preço: o da privacidade, o da imagem pública, o da vida afectiva que aparece nas revistas (se o visado foi palerma ao ponto de a expor nas revistas), o das preferências futebolísticas ou o da hipocondria, por exemplo. Entre outros. Quem não quer ser ridicularizado não pode, de facto, fazer figuras ridículas.
Eu defendo o direito dos políticos à vida privada, mas não acho decente tentar privatizar a sua vida pública, ou seja, tentar diluir na esfera do privado aquilo que é exposto em público. O episódio da ambulância é apenas um. Vir falar de facadas nas costas e de direito ao sossego parece-me, depois destas histórias, um exagero.