janeiro 02, 2005


A VIAGEM DE IAQUB, 4. Em Manaus, o Rio Negro assustara-o: os únicos rios que vira, em sonhos certamente, tinham sido os rios da Mesopotâmia, e nenhum era tão grandioso, tão frio, tão profundo e tão escuro como aquele que o barco segue de Belém para Santarém, de Santarém para Óbidos, de Óbidos para Juruti e Itacoatiara, de Itacoatiara até às águas sujas de Manaus, onde Iaqub chegara em Dezembro de 1894, numa manhã de domingo em que os sinos tocavam às primeiras horas da manhã e se aproximava o Natal dos cristãos. Mal descera do barco em São Luís do Maranhão, apenas o tempo de passear pelas ruas do porto. Quando passara ao largo de Alcântara, falaram-lhe de Belém como a última fronteira, e Iaqub imaginou que daí em diante as florestas à beira da água haviam de parecer-lhe os pomares ao longo dos rios do paraíso, as margens do Tigre e do Eufrates, com as suas cheias imensas de onde tinham vindo os profetas e continuavam a chegar a fruta, os carregamentos de armas, de seda e de retratos vendidos no mercado de Beirute. Mas nada o assustou como as margens dos rios do Acre, cheios de sombras e de animais despedaçados.