TODOS OS PROFESSORES DEVIAM LER ESTE LIVRO. «Eu diria que a nossa era é a da irreverência. As causas desta transformação fundamental são as da revolução política, da sublevação social (a célebre "rebelião das massas" de Ortega y Gasset), do cepticismo obrigatório nas ciências. A admiração, para evitar falar de reverência, passou de moda. Somos viciados na inveja, na difamação, no rebaixamento. Os nossos ídolos devem exibir cabeças de barro. Os louvores são principalmente dirigidos aos atletas, às estrelas pop, aos milionários ou aos reis do crime. A celebridade, que satura a nossa vida mediática, é o contrário da fama. Usar uma réplica da camisola do deus do futebol ou imitar o penteado do cantor da moda está nos antípodas da condição de discípulo. Correspondentemente, a noção de sábio roça o risível. A consciência é populista e igualitária, ou finge sê-lo. Qualquer tendência manifesta para uma elite, para essa aristocracia do intelecto que era uma evidência para Max Weber, não está longe de ser proscrita pela democratização do sistema de consumo de massas (ainda que esta democratização comporte, inquestionavelmente, emancipações, sinceridades e esperanças de primeira ordem). O exercício da reverência está a regressar às suas origens longínquas na esfera religiosa e ritual. Nas relações mundanas, a nota prevalecente, muitas vezes fortemente americana, é a da impertinência e a da contestação. Os "monumentos de um intelecto que não envelhece", talvez até os nossos cérebros, estão cobertos de grafiti.»
George Steiner, As Lições dos Mestres [Lessons of the Masters].
Tradução de Rui Pires Cabral. Edição portuguesa da Gradiva.
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