junho 05, 2005

Anestesia.

(Actualizado) Ou o país anda completamente anestesiado ou o retrato que dele sai nos jornais está mal traçado. A história da reforma acumulada com salário do ministro das Finanças, mais a história das reformas acumuladas com salário do ministro das Obras Públicas, passam em branco. Não defendo que sejam fritos.
A ideia base, segundo compreendi, é a seguinte: os senhores ministros têm essa acumulação por legal e legítima. Mas ser membro do governo e adoptar medidas difíceis como as que estão decididas agora, são coisas sérias e não dependem de pareceres jurídicos. Ao contrário do que diz o ministro das Finanças (que não admite que se levantem «questões morais» a propósito da sua situação, no que tem alguma razão), dependem também de pareceres éticos. A política, além de um pouco de verdade, precisa de um pouco disso, ou nunca entenderemos os apelos ao patriotismo e ao sacrifício em nome da correcção do défice, por exemplo (eu não o entendo, por exemplo, neste quadro). Não se trata de pedir o regresso da moral & dos valores, com vozes arrebitadíssimas, histéricas. O problema, neste caso, não é dos ministros. Eles trataram da vidinha, para usar a expressão portuguesa (e de «forma legal & legítima», segundo parece). O problema é que José Sócrates (e o PS) precisa de explicar melhor como pretende falar de «justiça social», daqui em diante, e manejar o conceito de «direitos adquiridos».