Chineses na Madeira e a Cova da Moura. Coisas arrastadas pelo vento.
Na janela de comentários, «Anonymous» escreveu que aí «não moram só os "imigrantes africanos"; muitos do que lá moram, africanos ou não, são mesmo é portugueses, com passaporte e BI Portugueses, assim como a maioria dos jovens do "arrastão" do 10 de Junho». Parece-me inteiramente correcto. Para todos os efeitos, é preciso ver que, quando se fala em pretos & brancos, ou seja, pretos na Cova da Moura ou na Quinta do Mocho, estamos também a falar de muitos cidadãos portugueses. Distinguir pretos & brancos pode ser um julgamento misericordioso mas é também ignorância. O meu país é de várias cores.
O arrastão de Carcavelos surpreendeu muita gente e eu acho que há razões para isso. Não vale a pena sermos cínicos ao ponto de dizer que “estava escrito” – isso tanto serve para ser usado pela extrema-direita racista, que culpa “os pretos e os estrangeiros” pelos desacatos na velha pátria (como se fôssemos todos branquinhos e enjoados), como pela esquerda fatal que aprecia o retrato de vitimização “dos marginalizados e dos excluídos” (como se em Portugal houvesse apartheid). Esse caldeirão é redutor e nele cabe tudo o que não vale a pena discutir com seriedade. Na verdade, não estava escrito. Poderia acontecer, mas a dimensão do estrago tomou proporções alarmantes, com as televisões a anunciar mais “arrastões” onde se tratava apenas de assaltos e a tremer de comoção com um roubo por esticão cometido por um “cidadão de raça negra”.
Há uns anos, era Fernando Gomes ministro da Administração Interna, e uma actriz foi assaltada. A actriz murmurou ainda que Lisboa era pior do que o Rio de Janeiro. Só umas semanas depois toda a gente se deu conta do exagero e do ridículo. Imediatamente, explodiram comentários, na imprensa e na rádio, sobre o mal que os pretos estavam a fazer à pátria, ainda que o caso não tivesse registado as proporções trágicas do Meia Culpa, em Amarante (em que só brancos estavam envolvidos, portanto). A paranóia foi gritante. As televisões adoram.
Esta questão do racismo volta de vez em quando à tona. Uns energúmenos organizaram uma manifestação “patriótica” para pedir que os pretos sejam expulsos e a pátria salva da invasão dos estrangeiros. A praia de Carcavelos, entretanto, voltou à calma com menos gente, que prefere outras paragens. O problema de Carcavelos, aliás, não é de integração racial nem de segregação racial: era de policiamento. Pretos ou brancos, adolescentes “excluídos” ou imberbes “integrados”, os criminosos devem ser tratados como criminosos pela polícia. Não há volta a dar-lhe. O resto é cair na vitimização rota, muito sociológica e sacana, ou no racismo de pretos e de brancos, demasiado imbecil.
Há aqui uma questão central: a da nacionalidade. Eu quero que o meu país seja feito de pretos e de brancos, de católicos e de muçulmanos, de ucranianos e de beirões. É uma ideia pessoal e admito que seja lamentável – mas não vejo outra solução. Estamos todos cá. Já vai longe o tempo em que tivemos um treinador da selecção nacional de futebol que defendia a existência de “portugueses legítimos” e de “portugueses de segunda”. Para mim, Deco é como se tivesse nascido no Minho e um miúdo nascido de pais bielorrussos que trabalham em Lisboa é como se fosse ribatejano.
O presidente Sampaio foi à Cova da Moura. Devia ir mais vezes porque vivem lá portugueses e não pretos. E o presidente da Câmara da Amadora também. Se aquelas pessoas são portuguesas, são portuguesas – devem obedecer às nossas leis, ser tratados como cidadãos, presos se cometem crimes, hospitalizados se estão doentes, perseguidos se praticam excisão feminina, e os seus filhos educados nas escolas públicas. Essa é a lei que eu defendo. Se não são portugueses, devem comportar-se como estrangeiros e respeitar o país onde vivem até que decidam, de acordo com uma lei justa e generosa, optar pela nossa nacionalidade. E aos estrangeiros devemos também um pouco de atenção. Nós fomos estrangeiros em qualquer outro lugar da nossa vida.
Isto não evita os arrastões, mas ajudará bastante. O pior racismo é o da iniquidade com que se permite a miséria. A pretos ou a brancos. (no JN)
9 Comments:
Na era moderna foram os "europeus" que invadiram o mundo. Com ajuda dos amigos americanos conseguem que os países, principalmente os africanos, nunca se desenvolvam. Claro que esta situação lhes interessa, senão já estaria resolvida há muito. Por isso, ninguém pode criticar esses povos que emigram à procura de uma vida que não podem ter nos seus países de origem. Não compreendo que haja xenofobia em Portugal que sempre foi país de emigrantes. Quanto àquele senhor da madeira, podia juntar-se á comunidade madeirense na africa do sul. Um dia ia à caça, perdia-se na selva e ficava tudo resolvido!
Aqui há 3 problemas:
1- a direita tem Raiva aos emigrantes;
2- a esquerda tem Pena dos emigrantes;
3- Os média ADORAM que os emigrantes levem ou dêm porrada.
Viva! Se não se importa, afixarei este seu texto no Pantalassa. Está excelente. Um abraço,
Ângelo Ferreira
(www.purprazer.blogger.com.br)
Faça o favor, Ângelo.
Não se deveria temer o bom senso. Nem se deveria esquecer da geografia. Ora, com bom senso e um pouco de conhecimento de geografia chega-se à conclusão de que Portugal é pequenino para tantos milhões chineses, para tantos milhões de brasileiros, para tantos milhões de ucranianos. A questão, parece, é optar entre se ter bom senso (e se ser perseguido como intolerante) ou se ficar caladinho, como querem que fiquemos os intelectuais dos dias que correm. Vejam que não foi por falta de aviso...
MILHÕES ?
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Madeira is fantastically beautiful, i am sure chinese love it
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