abril 24, 2005

Longe.

Agradecimentos sinceros são devidos a muitos amigos da blogosfera pelas suas referências à publicação de Longe de Manaus. Nomeadamente ao Adufe, Babugem, Blasfémias, Rua da Judiaria, O Mundo Perfeito, Janela para o Rio, Ideias Soltas, Quartzo, Feldspato & Mica, Seta Despedida, Miniscente, Blogame Mucho, Fogotabrase, Bloguítica, Amor & Ócio ou Silsmaria e O Vilacondense, se não esqueci algum. À blogosfera o abraço que pertence à blogosfera.

E a passagem.

E a passagem, a Páscoa. חג פסח שמח

abril 16, 2005

O tango.


San Telmo, Buenos Aires. Posted by Hello


Brigam no meio da rua. Ao passar em San Telmo,
ao fim da manhã, vejo como brigam, corpo
com corpo, ao som de uma música vingativa
que comove os cegos, os que passam, os que ficam.

A montanha para lá de El Martial.


El Martial, Ushuaia. Posted by Hello

Subo pela montanha. Ao fim de algumas horas
sento-me numa rocha mais alta para ver
a claridade do vale: pontes que atravessam ravinas,
animais solitários que procuram um caminho,
sinais perdidos nas penumbras.

Daqui vejo como a poesia
foi desaparecendo do mundo. Ou como
o seu sentido mudou – o poeta
devia interpretar as meteorologias, prever
as tempestades, não dar voz às coisas
do mundo nem às pequenas glórias.
Se houvesse uma obrigação digna e perfeita
seria esta: subir pela montanha,
esgotar as suas forças, contemplar o vale.

Águas negras.


Lapataia, Ushuaia. Posted by Hello

Parecem mortas, as águas de Lapataia,
o verdadeiro fim do mundo. Os caminhantes
chegam e emudecem, é esse o seu dever.
Silêncio absoluto diante das águas: só
o absoluto silêncio lhes dá ou devolve
a vida, ilumina as árvores dos diques,
a humidade incolor sobre as ervas,
as chuvas de cada dia que desaparece.

Parecem mortas e profundas, escuras,
negras. Dali em diante o mar é uma promessa
através do canal. Águas negras, águas
de nenhum mistério, de nenhum nome.

abril 15, 2005

Neva em Ushuaia

Neva em Ushuaia por alguns instantes. São os primeiros
sinais do Outono, vindos de El Martial ao fim da tarde.
Os poetas locais compõem os versos adequados à circunstância
– o Diário del fin del Mundo publicará depois sonetos, odes,
vilancetes e até uma milonga irregular sobre a brancura
que emudece diante do canal. Para isso serve a poesia,
que é mais útil nas pequenas cidades: ilustra os museus, os jardins,
estátuas de almirantes, exploradores, viajantes da Antárctida,

almocreves heróicos que atravessaram o estreito de Magalhães
para chegarem a Ushuaia. Neva em Ushuaia e comovo-me
nas ruas molhadas diante das livrarias e das lojas de tabacos,
e digo o nome dos meus filhos, Maria, Manuel, Francisco,
subo as escadarias, vejo a neve diante dos museus, das portas,
vejo os caminhantes que se abrigam nos cafés e olham
com surpresa a primeira neve do Outono. Mudo os meus versos
e empobreço-os, tocados pela primeira neve, a primeira neve

do Outono que cai sobre o fim do mundo, cai sobre a baía,
cai sobre o glaciar, cai sobre a mudez mais fria da pedra,
sobre as montanhas escuras, e nada resta do primeiro verso,
nada fica da primeira palavra, como uma ventania do sul.

Final



Halgerton, Tierra del Fuego
Posted by Hello

A poesia contemplativa, a Sudoeste

Posted by Hello

Canal Beagle, Argentina/Chile.

A poesia, contemplativa, não tem culpa
destes acontecimentos ocasionais:
um barco encalhado na enseada
entre árvores que envelheceram,
a cor das florestas, o frio do canal,
as montanhas do Chile, um caminhante
que atravessa o campo, cambaleando.

A cor das florestas é um acontecimento:
mudará no dia seguinte
como o vento que, ao longe, arrasta
a neve sobre os telhados de Puerto Williams.
Tudo é acontecimento para a poesia
contemplativa, tudo é uma
mudança extraordinária, tempestade,
uma meteorologia desconhecida.

abril 05, 2005

Beagle. Ushuaia.



Os mares do sul são assim, cinzentos, cobertos de espuma negra, reflexos cinza que vêm das montanhas, escarpas que descem sobre o mar, esverdeadas. Um aeroporto deslocado sobre uma língua de terra e rocha. O Beagle navegando por entre algas, o jovem Charles Darwin à proa, no barco. Os ventos da Antárctida, cabos estendidos ao longo do cais, nuvens que cobrem os cumes, ao longe. Tudo fica com ar de fantasma ao fim da tarde: pára de chover, o vento acabou de repente, acendem-se as luzes dos navios; uma sensação sem estranheza num mundo estranho. Terra incognita.

Puerto Madero, Buenos Aires.



Puerto Madero é uma tarde de domingo. Viagens de táxi. O frio.

Afinal, o Boca perdeu por 2-0. Havia um relato de futebol num aparelho de rádio lá ao fundo.

abril 04, 2005

Boca, Buenos Aires. Caminito.



Aviões que partem de madrugada, despedidas de Buenos Aires. Uma cidade demasiado bela para se esquecer uma palavra apenas. Uma que fosse.

abril 01, 2005

O estado das coisas (ou o estado em que se encontra este blog).



Com especiais recomendações à Carla e ao Carlos.

Aqui está o jornal onde gostava de trabalhar.

Em Ushuaia, no sul-sul-sul da Argentina, há um jornal que tem este título que nunca vou esquecer: Diario del Fin del Mundo.