maio 31, 2005

Paul Lapin.

O Nuno foi aos Correios e descobriu que se vendem, ao balcão, livros de Paulo Coelho. Deve ser por isso que o governo vai mandar instaurar um inquérito à gestão e a alguns negócios da administração de Horta e Costa.

PS: Paul Lapin é o nome de um alquimista com duzentos e tal anos, que aparece nas páginas do novo livro de Jô Soares, Crimes na Academia Brasileira de Letras.

Cada vez mais.

A ideia de pagar cada vez mais impostos, cada vez mais, não é agradável. E não é justa.

Cabala loura.

«Também há quem lhe chame cabala. Não tenho água em casa. Não tenho comentários no blogue. Não tenho marido, namorado ou, sequer, amante. Aposto que há uma lógica qualquer em tudo isto.» No Blogue de uma Loura.

Richard Zimler.

Goa ou O Guardião da Aurora: isto é uma boa notícia, o novo livro de Richard Zimler. Lançamento esta quarta-feira em Lisboa (edição Gótica).

maio 30, 2005

São duas coisas.

A propósito de uma discussão aqui e ali sobre o papel do futebol no Portugalinho, o seguinte: subordinar a agenda dos telejornais ao futebol parece-me uma excentricidade de subdesenvolvidos (já aqui escrevi o suficiente, até quando o meu clube ganhava, ganhava, ganhava); preencher a abertura dos telejornais com a final da Taça ao mesmo tempo que andamos à procura de notícias sobre o «não» em França, é consequência desse subdesenvolvimento; fazer horas e horas de directo na televisão com manifestações de rua em que toda a gente diz a mesma coisa, somos os maiores, somos campeões, só queremos Lisboa a arder, ninguém pára o SLB, etc., etc., nem sequer posso atribuir ao subdesenvolvimento mas à estupidez; delirar quando um cabecilha de um clube diz uma palavrinha, dependurado sobre o microfone, devia ser classificado como crime. Mas garanto uma coisa: desprezar o futebol e fazer campanha contra, com aquele ar muito superior de quem apenas se ocupa com as superiores questões da botânica ou da teologia, devia ser considerado sintoma de analfabetismo, de cretinice intelectual e de problema sexual ainda mais grave do que a disfunção eréctil. E é uma coisa muito vista, muito. Já não pega.

Futebol em campo pelado.

Ler os últimos textos do Ivan no Memória Inventada.

(E há um dado: esses textos, A Bola no Olival, estão reunidos aqui.)

Feira do livro.

Sim, a feira do livro tem aquele rasto de poeira e de frio ao fim da tarde. Mas eu gosto. Lamento muito, mas eu gosto.

PS. Será que amanhã, quando termina o mês e o prazo, ele vai entregar o manuscrito prometido?

O problema da área. O cantinho do hooligan.

No Bicho-Carpinteiro, José Medeiros Ferreira diz que é preciso «dar algum sentido colectivo a um tipo de jogo [do Benfica] demasiado virado para a cobrança de faltas à entrada da área». Mas, vendo bem os últimos jogos do glorioso e os últimos golos de Simão, não há razões para isso, meu caro: o Benfica tem estado demasiado virado para a cobrança de faltas dentro da área.

Bebidas clássicas de Portugal. O cantinho do hooligan.

Consequências graves, 2.

A ideia de que «países como a China, EUA, Índia e Brasil estão a avançar «num ritmo cada vez mais intenso» e que a Europa ficou para trás por causa do «não» francês (defendida pelo pai da República) pode significar que o sonho de grandeza política da Europa, esse sim, feito desta maneira, pode não ser o escolhido pelos europeus. Ou por uma margem significativa de europeus. Ou até por uma margem de europeus.

(No Fora do Mundo, uma explicação sucinta: de como este «não francês» está longe de significar uma derrota da Europa; em cinco linhas.)

Internet (2).

Sobre esse post anterior, a Tatiana Bandeira (Mulherzices) cita um amigo: «Há-de chegar o dia em que ao abrimos um pote de maionese saltará de dentro um popup.»

Consequências graves.

O pai da República diz que o «não» vai ter consequências graves. Uma coisa que aprendemos nos últimos trinta anos é que as consequências podem ser graves mas não tão graves como isso.

maio 29, 2005

Internet.

A proliferação de sites com efeitos sonoros e com flash, animação & pantomineirices, está ameaçar-nos a todos. Daqui a uns tempos estaremos com saudade do velho html na sua versão mais simples.

Marquês de Borba

Fábio Danesi (contista brasileiro muito bom, excelente blogger) descobriu o Marquês de Borba, de João Portugal Ramos, em São Paulo. Tem mais na lista, Fábio, tem mais.

O fim da Europa.

Mas a ideia de que a vitória do «não» em França significa o fim da Europa tem os seus aspectos agradáveis. Imaginemos alguns deles a emigrar para o Uzebequistão. Ou para a Venezuela.

UE-Mercosul

Que a ideia de relançar as negociações entre a UE e o Mercosul, para criar um mercado comum de milhões e milhões de consumidores, não seja recebida com foguetes e aplausos tão evidentes. Por mim, de acordo; em frente; sempre achei exagerado o preço do pão de queijo na Europa. Mas as implicações desse mercado comum serão tão radicais e profundas que teremos manifestações de rua pela França e Alemanha, e mais exigência sobre os centros de decisão. Talvez por isso, aquele pequeno tom introduzido na cimeira ibérica acerca do valor político desta iniciativa seja uma contrapartida apenas. O grande continente político euro-latino-americano pode vir a ser a utopia do ressentimento. Mas o que acontecerá aos subsídios isso queria eu saber.

Madeira.

O único senão desta ideia e deste comentário é que o dinheiro já não circula pela Madeira como antigamente. Basta uma conversa com empresários ou «fornecedores de serviços» para perceber que a ilha, contra todas as expectativas, está quase rodeada pelo deserto.

Chantagem.

O tom com que se comenta a hipótese de vitória do «não» em França é o de «pânico total». Essa onda de pânico (alimentada por 80% da imprensa e por 100% dos políticos do bloco central) levaria muitos eleitores a votar, imediatamente, não. Trata-se de chantagem pura.

O artigo de Vasco Pulido Valente no Público de hoje toca na ferida em dois aspectos: os franceses tencionam votar este domingo contra a "Constituição europeia" pelas más razões; os portugueses estão a ser industriados para votarem sim porque não se morde a mão que nos dá de comer. Na verdade, o nosso voto é irrelevante. O «sim», no nosso caso, vai ser redundante.


Concordo inteiramente com João Miranda: se se verificar que a França vota «não» e se isso for um «obstáculo à construção europeia», então que expulsem a França em vez de repetirem referendos até que os franceses se decidam a votar «sim».

maio 28, 2005

Correcção política.

«Se me deixassem provavelmente não teria amigos. Teria DVDs, livros, uma varanda com vista sobre Lisboa e vultos inúteis em momentos de sobriedade. Felizmente, há pessoas que insistem em falar comigo e que só raramente me insultam.» No Classe Média.

Jaquinzinhos liberais.

Jaquinzinhos há dois anos. Obra de coragem.

Casa de Cacela.

A felicidade merecida do José Carlos Barros. Eu não perderia tempo.

maio 27, 2005

Livrarias.

O livro deles está nas livrarias; mas o dela também. De repente, dois dos blogs. Os primeiros já foram ao Livro Aberto falar dele, do livro, e resolveram falar «de seios» (vai para o ar dentro de duas semanas). Ela também irá.

Da natureza dos posts.

«Não posto porque estou sem computador (no momento estou postando mentalmente, deitado na cama com um romance aberto no peito).» Alexandre Soares Silva.

maio 23, 2005

A marquesa saiu às cinco horas.

Variações deliciosas sobre um tema clássico, o de Valéry. Reescrever a frase «a marquesa saiu às cinco horas» através de Paulo Mendes Campos, através do Flabbergasted.

Newsweek.

A Newsweek pediu desculpas; a sua reportagem sobre Guantánamo continha uma falsidade. Os debates que se criam em redor de uma notícia falsa, em Portugal, garantem, à imprensa que a divulga, uma impunidade razoável. E é razoável porque ninguém atribui importância aos factos propriamente ditos. Eis como se desvaloriza um debate. Obrigado, Expresso.

O general no seu labirinto.

O meu benfiquista de eleição.

Nós, europeus. Imprensa.

A ter em atenção este protesto sobre a falta de pluralismo na cobertura do referendo. (Via Blasfémias/Gabriel Silva)

maio 22, 2005

Blogs.

Mais boa companhia: o Melancómico (do Nuno Costa Santos) e o Olha que Não (de Filipe Nunes e Mariana Vieira da Silva)

Pátio Bagatela Mix: saiu para comprar charutos e nunca mais voltou.

Lurdes Mateus, 35 anos, bibliotecária, que nos fala de Torres Vedras: «Eu conheci o meu marido na caixa de comentários do Barnabé.»

Futebola, 2.

Texto de Maurício Neves, publicado pela Fal, no Drops da Fal:
«No princípio era o verbo. O Flamengo era pouco mais do que o burburinho do rádio, composto pelo alvoroço dos locutores e pelo chiado das ondas médias, que meu pai tentava reduzir girando o botão maior, o da sintonia. Pacientemente. Às vezes mexia na antena, mudava o aparelho de lugar alguns milímetros, com o cuidado tenso de quem desarma uma bomba. De repente a voz de bluesman de Jorge Curi enchia a sala: “Anooooteeem... Teeeeempo e placaaaarr no maaiooorrrr do muuuundoooo...” Eu sabia poucas coisas. Mas sabia que maior do mundo era como Jorge Curi chamava o Maracanã, e sabia que logo ele estaria gritando um gol de Zico. Aliás, Zico não. Um gol de Zico, Zicão, Zicaço. Meu pai seguia olhando o rádio, onde estava escrito Philco acima da tela metálica e furadinha. O som enchia a sala de heróis que circulavam ao redor de nós. Uma sucessão de espectros rubro-negros: Zico tocava a Adílio, que driblava um e abria para Júlio César, o entortador, que entortava um, dois, três, e a bola voltava para Zico que então virava Zico, Zicão, Zicaço. Meu pai sorria olhando para o rádio: o Flamengo saía dali.»

Há vida para além do défice.

O presidente Sampaio, em defesa do Estado e do «estado das coisas», admite que há vida para além do défice. Pois, se há vida nas ilhas Spitzberg. Extraordinário como se fazem estas descobertas. Há vida na Antárctida.

Este domingo.

Não acredito. Sei que a produtividade vai aumentar e que os índices de auto-estima nacional vão chegar a alturas impensáveis. A estupidez tem direito a abertura televisiva e tudo. Há dois anos, em conversa de ocasião, o primeiro-ministro de então lamentava-se: que era necessária uma vitória do Benfica. Por isso, não acredito que se decidisse hoje o campeonato. Todos esperamos a vasta alegria de sete milhões e meio de portugueses de todas as classes e corporações. Parabéns sinceros.

(Ah, o que é o ressentimento de um hooligan!)

Chandler.

De cada vez que leio O Imenso Adeus, de Raymond Chandler (The Long Goodbye), fico preso naqueles primeiros cinco ou seis capítulos durante os quais Marlowe bebe gimlets com Terry Lennox no Victor's Bar. A primeira frase, na tradução de Mário Henrique Leiria começa por «a primeira que vi Terry Lennox», mas no original é «the first time I sat my eyes on Terry Lennox». Podem crer que o livro mudou muito desde que soube isso.

Alberto Mussa.



Li o livro de repente, O Enigma de Qaf (Record, Brasil), mas só agora o conheci, a Alberto. O riso de um libanês brasileiro, personagem fantástico. É uma pena não estar publicada em Portugal, esta história de magias.

Fernando Campos.

O romance histórico no seu melhor. O novo livro, escrito sobre a figura de Gonçalo Mendes da Maia, é uma reinvenção portuguesa da linguagem do romance histórico. Tem passagens de uma beleza cheia de desvario. Leiam, leiam.

Futebola.

As crónicas do Joel Neto na Grande Reportagem, sobre futebol. Um sportinguista em apuros.

Optimismo.

O problema é que, para os optimistas, o texto de António Barreto no Público de hoje até faz sentido. E, mesmo para os pessimistas, o texto de Vasco Pulido Valente anda muito perto da verdade. Há momentos em que estas opiniões coincidem, e isso não é bom. Dias difíceis, dias difíceis.

Lisboa.

Obrigado, Nuno.

maio 21, 2005

Não.

O Portugalinho ficou muito surpreendido com a posição de Pacheco Pereira acerca do referendo sobre o tratado. Apetece escrever: nós, Europeus, temos dúvidas ou discordamos. Ser europeu é isto mesmo, não se submeter à chantagem. Não. Um não cheio de dúvidas diferente dos que dizem não porque só têm certezas.

Fim de campeonato.

Este ano não devia existir primeiro classificado. Tudo começava em segundo. E não me importava de ver o meu clube em terceiro (em quarto, queria eu dizer). Há castigos que vêm por bem. Escrevo isto por sí acaso.

Silêncio.

De facto, a ideia de ter um primeiro-ministro silencioso é boa. Já à sua volta...

maio 09, 2005

E aqui também.

Sim, isto também é comovente. Não pensem.

maio 08, 2005

Linguagem, a verdadeira.

No Brasil, o governo (através da subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos) lançou uma cartilha sobre o verdadeiro modo de falar correcto «que reúne 96 palavras, expressões e piadas consideradas pejorativas e que revelam generalizações e discriminações contra pessoas ou grupos sociais». Acaba de ser publicada. Cuidado.

Cito do Último Segundo: «Na cartilha, foram incluídas expressões como "a coisa ficou preta", "farinha do mesmo saco”, “maria vai com as outras”, e palavras como veado, burro, aidético, sapatão, gilete, baianada, ladrão, judiar e até comunista. Alguns exemplos são inesperados: não se deve chamar de "palhaço" uma pessoa pouco séria ou de "barbeiro" o motorista inábil ou que comete infrações, porque os termos ofenderiam os profissionais dessas áreas.» (Via Radamanto)

Revista de blogs.

No Million Dolar Kiss, este texto sobre blogs.

Não perder.

O texto de João Lobo Antunes no Mil Folhas do Público, sobre Steiner; o artigo de Nuno Crato no Expresso (secção de Opinião).

Declaração de rendimentos

aqui qualquer coisa comovente a reter.

maio 07, 2005

Esclarecimento.

Mais estranho ainda é que eu tenha gritado «Pinilla!» na última semana e «vambora» nos últimos dias. Os meus amigos do Sporting emudecem. Ou a vida mudou ou o hooliganismo já não é como antigamente.

Enfim.

Uma das coisas mais estranhas. Durante o último ano fui dado como conselheiro cultural, vice-cônsul, empresário, «o nosso homem em Havana», creio que negociante de droga, parceiro de várias parcerias e parceiras. Não fui nada disso; vivi do meu trabalho. Não vale a pena explicar. Infelizmente, para eles não fui namorado de Meg Ryan nem vencedor do Euromilhões. Os filhos da puta são sempre filhos da puta, só pensam o pior.