O
Filipe NV queixa-se de que, nesta altura, «todos se queixam do país que temos e que somos». E que aparecem
forra-gaitas, bertoldinhos e balhastreiras, em colunas
de jornal, vergastando o país. Meu caro Filipe: mas isso é um desporto nacional, a garantia de que o país existe mesmo, de que o primeiro-ministro pode continuar a telefonar sem correr o risco de encontrar a gravação «o número para o qual ligou não existe», a certeza de que podemos continuar a malhar nele sem sermos considerados estrangeiros. Mas eu compreendo; o Filipe refere-se aos que, há cerca de um ano, encontravam motivos para pensar que a Pátria, amada e decente, estava no bom caminho -- e que hoje, vendo o país a arder, choram amargamente o destino que nos está reservado. Ou seja, aqueles que, na época, nunca viram motivos para dizer «olha as nomeações para a Caixa!» e se acidulam hoje com as nomeações para a Caixa, suponho eu. Desvantagens, Filipe, de se ser um liberal à moda antiga.
(*) Bertoldo s.m. Indivíduo parvo, estúpido, palerma. Forra-gaitas s.2g.2n. Indivíduo avarento, sovina. Obrigado Antônio Houaiss.
Balhastreira não encontrei, caro FNV. Será balastreira, «que assenta o balastro», ou seja, o cascalho?
Afinal, F NV esclarece: «Balhastreira: eufemismo para "Puta" utilizado no Alentejo, aparentado (?) com o "bandarra" e "bruaca" brasileiros.» Cortesia do Heinz Kroll, O Eufemismo e o Disfemismo noPortuguês Moderno