junho 30, 2005

Como tudo se explica.

«A minha geração achou que era dona do país», diz Saldanha Sanches na Visão; é uma frase a reter. Saldanha Sanches poderia ter dito «a minha geração acha que é dona do país» para assim se explicar parte do falhanço da «classe política»; visto de longe, lá dos altares do espírito, o país é moldável, maleável, transformável, e as soluções adequam-se. Mas quando a proximidade é inevitável, ah, tudo é desilusão. A teoria da choldra (que vem do século XVIII, sobretudo) nasce desse olhar. Mas nem todos eram miseráveis ou cretinos; muitos eram geniais (Cavaleiro de Oliveira, Luís da Cunha, Verney, Sanches). Tornaram-se miseráveis quando (como todos os que carregam utopias infalsificáveis), para além de se julgarem donos do país, se julgaram donos da verdade. Sócrates, que é da geração seguinte à de Saldanha, está na encruzilhada.

Homem à moda antiga.











Vidas extraordinárias.

Liberal.

Eu também acho neo-liberal um insulto. Sou liberal à moda antiga.

Causas.

O Causa Liberal fez dois anos.

Esfolar o Coelho.

Prossigo a tarefa. Prevejo que daqui a quinze dias Paulo Coelho esteja devidamente esquartejado. Ler este homem é uma tortura, admito. Hoje de noite reli páginas de Monte Cinco para testar algumas qualidades (minhas) como conhecedor do Livro. Apesar da citação «mariana» e católica que abre os seus livros, estou convencido de que Coelho usa uma Bíblia de quarto de hotel.

Referendo.

Sim aos referendos. Mas esta «febre referendária» em relação ao aborto parece apenas uma tentativa de o PS sacudir a água do capote e servir-se dele como arma que o PSD também pode usar, se se portar bem. O PS ainda não descobriu para que servem as maiorias.

junho 29, 2005

Um poema de Bernardo Pinto de Almeida. Bilhete postal (H.S. 3B)

Aos que fizeram da luta de classes um negócio
se deitaram das pontes mas com pára-quedas
se despediram do mundo e fundaram outra empresa,
fizeram da dor um carnaval
montaram takeaways de sentimentos
não poderemos senão desejar
os melhores votos de
uma feliz,
rápida,
morte.

junho 28, 2005

Os problemas florestais.

Retratos a meio da floresta: colesterol mau acima do nível, colesterol bom à medida mais do que justa; próstata em bom estado; hemograma sem drama; os outros elementos andam regulares, do fígado ao que for preciso saber que existe e que se manifesta, além de que a tensão arterial não é para preocupar. Fica o relatório feito por uns tempos. Há cerejeiras à beira do caminho. Metade da vida já lá vai; agora, uma dieta com certos rigores, passeios pelos bosques, mais sono durante o Verão. Estou pronto para Setembro. Retratos a meio da floresta.

Árvores, sem adjectivos.

Um dia destes, no Livro Aberto, dei com este livro. Tinha andado desatento, mas felizmente a sorte favoreceu-me. O livro é de Paulo Ventura Araújo, Maria Pires de Carvalho e Manuela Delgado Leão Ramos e leva o título À Sombra de Árvores com História (publicado pela Campo Aberto ainda no ano passado, 2004). Eu não sei o que é necessário para que o Porto (a cidade, a Câmara, os portuenses, nunca se sabe) inclua o livro na sua bibliografia fundamental. Mas a verdade é que um livro destes, assim, faz parte da história da cidade. O inventário das árvores históricas do Porto (para quem não sabe, há um inventário de árvores centenárias portuguesas realizado e publicado pelos serviços do Ministério da Agricultura) é um acontecimento e um marco que devia ser assinalado. Eu faço-o com atraso, mas o defeito é meu. Distraído com romances, não tinha dado por estas fotografias de jacarandás, magnólias, metrosíderos, ciprestes, plátanos, araucárias, cedros do Líbano e do Atlas, tílias, carvalhos e ginkgos, tudo espalhado pela cidade, em praças, ruas, jardins, colinas, passeios junto à água do Douro ou do mar. Parabéns ao Dias com Árvores. Oxalá pudessemos merecer essa homenagem, de cada vez que passeamos pela cidade e de cada vez que gostamos de as ver, às árvores.

Dois anos de Abba.

O Aba de Heisenberg comemora dois anos também, de excelente incerteza. Andamos quase todos pela mesma idade, é o que nos vale.

Portugal.

Fátima Lopes, Luís Buchinho, Nuno Gama (eu não percebo nada do assunto), ou alguém mais, não sei. Mas a moda do colete reflector está a transformar a pouco e pouco a paisagem visual das estradas. Garanto que vi um cavalheiro vestir o colete para sair do carro e dirigir-se ao tronco de um pinheiro, na berma.

Mais coisas temíveis, 2.

Regresso a Veronika para verificar que há uma série de repetições involuntárias em Brida, ou ao contrário (no caso de Paulo Coelho, não interessa a ordem de publicação). Problemas semelhantes dão origem a soluções completamente inversas. Pobre Siddhartha que se transforma em Taróloga Maya. Em Brida há uma passagem comovente que me esqueci de assinalar ontem, e que recomendo à atenção do Rui CS: o namorado de Brida (que é secretária numa empresa de Dublin) ganha menos do que ela; ele é professor no departamento de Física numa universidade pública irlandesa. Assim vai o mundo. Há sempre temas para debate.

Solidariedade, 2.

Manifestações de solidariedade para com este blog, sempre bem vindas.

Avatar.

Ó Bruno, já me esquecia: parabéns! Dois anos, hã?

Memória.

Ler este post do Bicho Carpinteiro.

Revista de Blogs. Canalha fundamental.

«Carrilho é o canalha fundamental. Isso está antes do seu programa político, antes do partido a que pertence, antes de uma vitória «da esquerda». E é inquietante que algumas pessoas decentes publicamente associadas a esta candidatura não tenham ainda feito a sua ruptura, manifestado abertamente isso. Ah, sim – eu votarei no Sá Fernandes. Eu votaria em quase todos os outros, para não votar em Carrilho.» [Ivan Nunes, no A Praia]

Neverland.

Ó João, homem!, venham de lá esses ossos por mais dois anos.

Exames, 2.

Sobre os exames e a «quase unanimidade» à volta dos exames, o Ademar F. Santos escreve por email: «Não tomes a nuvem por Juno. A crença nas virtudes redentoras dos exames não passa disso mesmo... uma crença. Se, de vez em quando, passares os olhos pelo Abnoxio constatarás que, não sendo eu "pedagogo" nem "pedabobo", não mudei de opinião a respeito da serventia dos exames (há 20 anos, pelo menos, que não mudo de opinião). Como diria o Almada, se não houver outra maneira de a gente se salvar... estamos fodidos. O problema é que, pelos vistos, andamos quase todos à procura de fórmulas muito simples e expeditas para garantir a qualidade da educação, como se a educação fosse uma equação a duas ou três incógnitas e se pudesse resolver assim, de uma penada, mais exame, menos exame... Há muito que deixei de dar para o peditório das "reformas", as tais "reformas" iluminadas que, de uma forma instantânea e igualizadora, resolveriam todos os problemas do nosso ensino. Já se viu que não resolvem. A reforma dos "exames" seria apenas mais uma. Podes crer que nada de essencial se alteraria.»

Solidariedade.

A bondosa Tati, solidária por email: «Venho, por este modo, apresentar-lhe a mais sentida solidariedade pela vil tarefa a que foi obrigado. Entendo o sofrimento causado por tão penosa cruz que arrasta - ler, de «cabo a rabo», o Paulo Coelho não é tortura admissível. Não fosse ser Socrático o governo, e juraria a pés juntos que Inquisição nunca mais. Assim, não sei, não... Presumo pelo que escreveu que os seus sinais vitais se conservam e a lucidez não foi afectada. Afinal, riu com o Verónika! Eu também, mas por pouco tempo, que não devem as gentes rir das desgraças alheias.»

(Actualizado com o link correcto para o blog da Tati.)

Frescura.

Na mesma edição do Público, Eduardo Prado Coelho recorda uma afirmação de Sócrates depois da demissão de Guterres. O actual primeiro-ministro dizia, então, que os «eleitores querem é uma hipótese mais fresca».

junho 27, 2005

Erros meus, boa fortuna.

A melhor secção da imprensa de ontem é «O Público Errou», do Público: por um lado, o Público trocou a fotografia de Malam Bacai Sanhá com a de Artur Sanhá. Até aqui, tudo normal. Depois, o Público pede desculpa pelo facto de, no texto de Mário Mesquita de domingo, António Guterres ter sido identificado como Alto Refugiado em vez de Alto-Comissário para os Refugiados.

PS – Meu caro Mário Mesquita: o erro foi involuntário?

Mais coisas temíveis.

Continua a odisseia à volta de Paulo Coelho. Hoje foi Brida, que só pode ler-se (é uma maneira de dizer) depois de O Alquimista ou o Diário de Um Mago, para «perceber» o que são a Magia do Sol e a Magia da Lua. Não percebi, realmente, mas não terá muita importância. Mas várias vezes me apeteceu esbofetear (também é uma maneira de dizer) a personagem principal, Brida. É preciso dizer que o cenário irlandês é absurdo, que Dublin está cheia de livrarias ocultistas e que o livro é de Paulo Coelho. A vida não é fácil. Isto vai sair-me caro.

Coisas temíveis.

Por razões de trabalho, estou a ler Paulo Coelho. Eu tinha apenas lido O Alquimista, há uns anos, para escrever um artigo que ficou com o título «Eu li Paulo Coelho e sobrevivi». O exercício, agora, está a ser penoso, mesmo ao ritmo um livro por dia. A vingança será terrível, sobretudo depois de ler Monte Cinco e Veronika Quer Morrer. O primeiro deu-me vontade de queimá-lo; o segundo, de rir. O Alquimista não volto a ler, recordo bem as consequências funestas. Mesmo com todo o espírito de tolerância de que sou capaz (e ele é bem vasto, posso comprová-lo), Paulo Coelho será sempre o pior de Raul Seixas. Nem sequer um flibusteiro. A um homem assim a França, Chirac e o Ministère de la Culture atribuíram comendas e ordens de cavalaria. Tenho dúvidas sobre o resultado desta semana e meia de dedicação a Coelho, mas a vida não é fácil.

Catalunya, Nuno.

Este gajo, é uma maneira de dizer, está claro, vive entre o Porto e Barcelona, passa ali pela Indonésia e pára dois dias em Bali, ainda vê a ilha de Flores, tudo isto antes de murmurar que está na Noruega ou na Irlanda, ou em Gandem, na Terra Nova, ou num hotel de australianos em Anchorage. A descrição podia continuar. O Nuno é um dos portugueses mais atentos que eu conheço. Andava há um ano para escrever isto, mas agora que ele mencionou o Las Nubes, de Juan José Saer, achei que era demais e que estava a pedi-las.

Revista de Blogs. Continuo a discordar que as pessoas saiam de casa.

«Continuo a discordar que as pessoas saiam de casa, acho negativo. Devia-se promover o repouso caseiro, a ver a Sport TV, a ler um jornal estrangeiro, a queimar livros de jovens escritores portugueses, sei lá. Quer-me parecer que se sai demais. Há pessoal a dar com um pau (que é o que mereciam) espalhado pelas esplanadas com as chaves do carro em cima do telemovel e estes em cima da carteira, estritamente por esta ordem, num equilibrio que revela filosofia. Não raras vezes estão de chinelos. Não concordo. As pessoas só deviam sair dos seus aposentos para engordar ou emagrecer. Agora assim, cachos de gajos a olharem uns para os outros a comentar o último rabo.... pá, não sei, parece-me desapropriado. É que ninguém sabe nada de história de Portugal, por exemplo. Não os vejo preocupados com isso, ou, se estão, disfarçam muito bem.»
[maradona no A Causa Foi Modificada]

Exames.

Verifico agora, lentamente, que governo, pedagogos, muitos professores, muitos bloggers, muita gente, afinal defende os exames do 9.º ano. Se daqui a uns anos se verificar a quase unanimidade na sua defesa, eu pedirei indemnização pelos insultos que tive de escutar, ler e aturar de cada vez que defendi a sua existência e necessidade. E mais: imagino, um dia destes, a Dra. Ana Benavente a concordar com a existência destes exames. É o descalabro.

Danças Ocultas.














Obrigado ao Mário, do Retorta, por esta imagem.

A ler.

A entrevista de António Campos à Pública. É curioso como os europeístas merdosos saem trucidados desta entrevista, que arrasa a PAC, esse elefante que consome o orçamento e cria as maiores injustiças. Não só em relação aos europeus, mas também em relação ao resto do mundo.

junho 26, 2005

Mais sinais.

Castanheiros, praias fluviais, colinas ainda verdes, banhos na água do rio, risos, uma cerveja no meio do Verão, os meus três filhos correndo em redor de um castelo, o céu azul, um calor assim, mesmo as coisas que faltam estão presentes.

«Rescaldo.»

Reparo que não é apenas a imensa legião de comentadores desportivos que pratica o «rescaldo da jornada». O termo é mau, muito mau. Mas ouvi-o hoje na rádio para «fazer o rescaldo da jornada parlamentar». A ideia era ver quem ganhou «o embate»; se o governo, se a oposição. Parece que foi o governo. O campeonato prossegue.

junho 25, 2005

A ler, 2.

Questão de legitimidade: se Carrilho mostra a família, exibe a criança e tudo isso, ele abre, ou não, as portas da sua intimidade? Se o faz, é ou não legítimo recordar outros episódios pouco ou nada edificantes da sua intimidade (embora praticados em público, como os descritos por Vieira, e conhecidos do meio)? Isso faz um presidente da Câmara de Lisboa?

A ler.

É apenas uma pequena coluna, mas vale a pena ler o texto de Joaquim Vieira na Grande Reportagem deste sábado sobre Carrilho e a intimidade.

Maus sinais.

Não compreendo como é possível saber-se que o famoso arrastão de Carcavelos foi, afinal, apenas o que foi, e não haver um mínimo de decoro nas televisões.

O cantinho do hooligan nas Confederações.

Bom, mas que seja claro: o Brasil, que seria a minha selecção na Taça das Confederações, está a jogar mesmo mal. Não admira, com o comando de Parreira, um dos mais chatos brasileiros da história da humanidade. Como hooligan, o comentário é simples: futebol-arte (aquela coisa que levou o Brasil à derrota contra a Itália no fatídico mundial) é coisa de veado, daí chamar-se futebol-bailarino; futebol de equipa só consegue fazer-se com gaúcho ao comando (já que Telé Santana está ocupado); com Parreira não há soluções: nem violência patriótica nem malabarismos de bola. Vale-lhe o facto de ter Robinho, Adriano (eh, eh), Ronaldinho, Cicinho e uma parte de Deus que, como se sabe, é brasileiro e canta canções de Lupicínio.

Bons sinais.

Depois de Gabriel Alves fazer um discurso de três minutos e meio, em televisão, sobre a ineficácia do ataque brasileiro, sobre o quão mal estavam a jogar à bola, sobre a falta de soluções atacantes e a ausência de soluções defensivas, sobre a merda que estava a ser o jogo do Brasil, respirei de alívio. Sabia que o momento estava a chegar; de facto, um minuto depois, Adriano marca o terceiro contra a Alemanha. Há coisas que são assim mesmo.

junho 23, 2005

Livro Aberto.

Rititi no Livro Aberto deste sábado, às 23:00, na RTPN. Desta vez não repete às 13:00 de domingo (imagine porquê). Mas volta à 01:30 de quinta-feira na :2.
E na próxima semana, mas já repetindo às 13:00 de domingo, eles os quatro.

junho 21, 2005

Solstício de Verão

Na minha terra são capazes de tudo.

Como se esperava.

Aumento de produtividade com a vitória do Benfica no campeonato.

junho 20, 2005

Europeus, nós?

A peça da RTP sobre o falhanço da reunião de anteontem era notável: um primeiro-ministro luxemburguês condoído, coitado & tão indignado, um Chiraque condoído, coitado & tão generoso, um Blair sorridente passeando de chávena (de chá?) na mão, muito sacaninha. Eis como se explica o mundo. No final, Durão Barroso apareceu a dizer não sei o quê.

Abatanado.

Joel Neto prossegue, na Grande Reportagem uma campanha pela defesa do abatanado e do café cheio. Eu sei, Joel, eu sei: isso é um disfarce por causa da cerveja ruiva, aquela Murphy's Irish Red bebida à mesa, durante o fim da tarde.

Parreira, bom amigo.

Retrancão, eles dizem de Parreira, o técnico que não consegue ganhar mais do que 4 jogos seguidos. O México não perde há dezanove jogos. Vida é assim.

Milton Friedman, 92 anos

Na Folha de São Paulo de ontem, recomendo a leitura da entrevista com Milton Friedman: legalização imediata da marijuana e de quase todas as drogas.

junho 17, 2005

Nós, Europeus.

Nós, europeus, devíamos sentir vergonha disto. Um resto de pudor. Um resto de paisagem. Nós, europeus, devíamos imaginar como se sai de Antuérpia e se abandona aquela paisagem. Provavelmente ainda não encontrei cidade mais europeia do que Antuérpia, o cruzamento de todas as liberalidades, de todos os muros, de muitas religiões, das universidades. Quem conhece Antuérpia sabe do que falo: daquela luz, daquela diferença de uma rua para a outra. E devíamos ter vergonha desta gente que assaltou Bruxelas e que assalta a Europa, mas vinda de dentro.

Microsoft, obrigado pela filha da putice.

A Microsoft em prol da liberdade e dos direitos humanos. Mas quem, no seu perfeito juízo, poderá censurar-te Microsoft?

Defeso e preliminar. Uma teoria freudiana.

Mais ou menos na mesma altura em que José Pacheco Pereira prova que também não é um homem do mundo (ao ter admitido que pensava que o Norton de Matos que ia para o Vitória de Setúbal era o velho general e não aquele cavalheiro que passa por ser treinador de futebol), o Bombyx-Mori fala sobre o defeso antes da época propriamente dita:
"Esta é a única altura do ano em que acho legíveis (suportáveis) os jornais desportivos. No defeso, são obrigados a fazer um considerável esforço de imaginação arquetípica para tornar verosímeis as ficções que constroem à roda das contratações dos grandes. Ficções quase inofensivas. Há um acordo tácito: os leitores não levam à letra as miríades. Como se fossem fantasias sexuais que se interrompem muito antes dos preliminares. Ou inclusive transferências, a via regia porém difícil e polémica para aceder ao inconsciente e perscrutar, no passado, a causa de neuroses e outras psicopatias. Já dizia Freud: a transferência é uma forma especial de recordar."

Parabéns, parabéns.

Sim. Agradeço a todos os que, nos seus blogs e no "correio do Aviz", assinalaram o 2° aniversário deste blog. Já vos trato da saúde.

P.S. - E a ti também, Besugo, que não perdes pela demora.

Ter a dizer, não ter a dizer.

Sobre os posts. Quando se escreve sem ser para postar, coisa que acontece bastantes vezes a quem vive disto (disto, imagine-se), há muitas coisas que já não se postam porque, simplesmente, se perdeu a oportunidade ou porque já não apetece postar. Ou porque se ficou preguiçoso. Ou porque (ah, esta é a melhor parte) há sempre alguém a fazê-lo melhor do que nós. Razão porque descobri blogs muito bons ultimamente.

Vantagens de não ter caixa de comentários.

Vantagens de não ter caixa de comentários é o título de uma série de pequenos posts do Tulius Detritus, no A Memória Inventada. Muito bons.
Os dois últimos:

* As fantasias sexuais do homem de esquerda envolvem mulheres sem consciência política (it goes without saying). Porém, quando elabora a composição da partenaire, este homem prefere as mulheres de direita (aqui haveria algo mais a dizer).

* Existe uma deontologia do homem famoso? Existe. Não se deitar com a jornalista antes da entrevista, por exemplo.

junho 16, 2005

Os pais da Pátria.

Esta ideia peregrina (e imbecil) de que temos de "pagar dívidas" aos pais da República para que fiquemos de bem com a democracia, não é absurda. É ela que tem permitido, autorizado e incentivado a mediocridade do debate político e o respeitinho permanente a uma série de bonzos que acham que a pátria é mesmo sua.

Notícias da frente ocidental.

Mas, como sai Dirceu porque sabia, o que aconteceria se se soubesse que Lula também sabia?

Ficando Furlan, Roberto Rodrigues, Palocci e Márcio Thomaz Bastos (e nenhum dos outros), isso seria uma reforma ministerial.

Desiludam-se primeiro, habituem-se logo a seguir.

"E desiludam-se: eu vou em frente, com a minha família e todos os meus, por uma Lisboa com projecto. Como alguém disse, e bem: habituem-se!" [Manuel Maria Carrilho, no Público de hoje.]

Dois anos de Aviz. É a vida.



Pois a novidade foi-me dada esta manhã, por mail, pelo António, do Local & Blogal: o Aviz com dois anos de vida, irregular e distraída.

Évora falhou.

Ninguém ganhou com isso: "Comunicado do Governo Civil de Évora: O Governo Civil de Évora informa que o resultado do concurso “Arrebitem-me o meter”, promovido pelo blogue Contra a Corrente, cujo licenciamento foi deferido a 30 de Abril do corrente ano, foi considerado nulo."
Julgavas, Carlos, que eu não ia dar notícias sobre isto?

junho 15, 2005

Tudo perdido. Tudo resolvido.

Pois se até esta revista lulista publica esta notícia sobre o escândalo brasileiro do momento.

Aprender com Moçambique.

Sim, aprendamos com Moçambique. Aí está uma mudança que vale a pena. Mudemos.

Ui. Viajar em Portugal, exemplo de civilização.

Villas-Bôas Corrêa, tu endoidou? Tu não sabe que guerra está comprando. Nem imagina em que debate se meteu, desgraçado. Tu, que podias ter ido de Portugal, regressado ao Brasil e, segurando com os dedos o meio chope já em fase terminal, poderias ter apenas comentado, "não tá mal aquilo, não". O que foste tu dizer! "Portugal é um país caiado de branco, a imagem da limpeza das ruas, das paredes das casas e edifícios, das estradas." Tu tem a certeza? Tu não sabes o que significa falar da "gentileza prestante, a amabilidade invariável, a cortesia natural, espontânea do povo português, um dos mais educados do mundo. Não apenas com os brasileiros, mas com um toque especial para o irmão mais moço e estouvado, que fala a mesma língua." Tu achas?
Nós gostamos de Portugal, sim, mas há limites. Da próxima vez que virem o Villas aí pelas ruas, distribuam-lhe abraços, bacalhaus, carolos, livros de Saramago, mapas de estradas e um mazagrã reparador. Se o presidente o descobre, dá-lhe uma comenda. Protejam-no. Nós queremos Portugal só para nós. Não deixem o Villas à solta, ele rouba-nos o país.

Obrigado, Villas-Bôas.

Eduardo.

Dois textos de Eduardo Pitta, a ler no Da Literatura: um, sobre os escritores e a fama da leitura omnívora: "Por último, mas não em último, a classe dos patuscos. Os patuscos obrigam-nos a gostar das luminárias de estimação. Quem não afina com o cliché tem os patuscos à perna." Outro, sobre o desaparecimento de René Bertholo e de Eugénio de Andrade: "Nos dois casos, falo de Eugénio como se deve falar de um grande autor: sem rodriguinhos laudatórios ou «reverência» bacoca. Um poeta como Eugénio merece esse sinal de respeito. Compreendo e solidarizo-me com a comoção dos amigos próximos. Mas incomoda-me o eco das carpideiras."

Notícias da frente ocidental.

Nada de novo no Congresso, nada de novo no Planalto. Jefferson manteve. Curioso isto: ser um personagem como Jefferson que pode desmontar o pequeno puzzle do lulismo. Bah.

Reparação, 2

Diz Carlos Malha, por email, acerca de Michael Jackson (post "Reparação"): "Também nunca nutri qualquer espécie de admiração por Michael Jackson, e tempos houve em que facilmente o arrumaria como "imbecil" e "grotesco". Porém, ouvi um dia Caetano Veloso dizer que o considerava um músico de grande talento. Continuo a não gostar de Michael Jackson, mas este foi um daqueles pequenos desconcertos que ilustram as imensas maneiras que há de ver as coisas."

O Carlos enviou "uma maneira de ver de Caetano": a sua versão de "Billie Jean" (enquadrada por uns pedacinhos de Ewaldo Ruy / Fernando Lobo, no início, e de Beatles no fim).

Cunhal, 2

O Miguel, por mail, escreve sobre o post acerca de Cunhal: "Quanto ao “marche” é de facto difícil ter uma visão proporcionada das personagem perante a sua perda. Direi que faz parte do momento. [...] Mas, perante este país, este tempo. Este desespero sem sonho. O cerco destes garotos tornados líderes; a abundância da sua demagogia; o seu embrulho polido e vazio... Viva Cunhal. Não por empatia ideológica, mas pela capacidade de ter um sonho e dedicar-lhe uma vida. Sem mais. Sem flores. Admiro o trabalho e o pudor da atitude. É apenas uma empatia de registo pessoal."

junho 14, 2005

Richard Zimler.

Estou a ler Goa ou o Guardião da Aurora, de Zimler (edição Gótica). A continuação da vida dos Zarco, antes e depois da tragédia (ver O Último Cabalista de Lisboa e Meia-Noite ou o Princípio do Mundo), mas com um lirismo muito inesperado. Muito.

Adenda.

Além do "mensalão" que o PT pagava em Brasília a deputados do PL e do PP; além do pagamento do PT ao PTB, em dinheiro; além da revelação de que o PT teria proposto mudança de partido a uma deputada do PSDB, com pagamento adequado; além da outra revelação de que o PT terá permitido o desmatamento da Amazónia a troco de financiamento ao partido (inclusive na zona onde a Irmã Dorothy foi assassinada, recordo, caso a investigação venha a sofrer revezes); além disso, claro, há ainda a existência de um suposto "mensalão" em S. Paulo durante a administração de Marta Suplicy. Fim do episódio.

Jefferson, rapaz.

O Brasil pára hoje para ouvir Roberto Jefferson, o presidente do PTB, sobre o "mensalão" (pagamento de 30 000 reais, mensais, a cada deputado do PP e do PL, por parte do PT, para que apoiassem as votações do governo).

Piada do dia: os líderes do PP e do PL decidiram atacar Jefferson e o PTB, para salvar a coligação petista e lulista na Câmara e no Senado. De que maneira? Dizendo que Jefferson e o PTB não têm razão para fazer acusações dessas ao PT. Porquê? Porque, como circula em Brasília e foi já publicado na imprensa, o próprio PTB e o próprio Jefferson teriam obtido um financiamento de 20 milhões de reais por parte do PT. Lindo. Inteligente.

Segunda nota do dia: a senadora Heloísa Helena, expulsa do PT e fundadora do PSOL, disse ontem o que toda a gente queria dizer e ainda não tivera coragem para dizer: sim, Lula sabia; no PT, essas coisas são assim. Vingança fria.

Reparação.

Eu não gosto dele. Mas quem irá reparar as centelhas de ódio que destruíram a sua vida miserável? Ele precisa de tratamento, de terapia, de médicos. Quem poderá recompensar aquele homem feio, ridículo, grotesco? Ele inventa agora que sofre de uma doença que deixa branca a sua pele. Ele é um imbecil. Um pateta. Um homem inconformado e sem solução, um andróide. Nada do que ele diga ou faça o livrará de ser aquele imbecil. Mas quem poderá reparar aquela acusação, aqueles risos?

Marche.

A ser verdade esta citação, o presidente Sampaio acha que «é um grande comandante que desaparece», referindo-se a Álvaro Cunhal (além de que «há continuadores no PCP capazes de prosseguir o seu legado»). Por que razão as pessoas, mesmo as de alguma responsabilidade, como o Presidente, não hão-de poder elogiar os mortos com algum sentido das proporções?

Revista de Blogs. O Casmurro comenta o final de uma época.

Já soube que alguém disse que a morte de Álvaro Cunhal é o fim de uma época?
— E daí, Groucho?
— Nenhuma surpresa, claro. Surpresa é não dizerem o mesmo da morte de Eugénio de Andrade. No caso de Cunhal, o lugar-comum implica contra-senso: há anos que lhe chamavam fóssil, anacrónico, dinossauro… Será que a época que acabou com ele é aquela em que os homens podiam sobreviver à própria época? A vida aquém-túmulo vai tornar-se insuportável para muita gente…
— Sempre especioso, carago. Mas por que raio haviam de dizer o mesmo do Eugénio de Andrade?
— Não é isso, senhor, não digo que devessem dizer. Registo apenas a diferença, essa sim, especiosa, que liquida ideias e ideais políticos para certificar o óbito das épocas que os originaram, enquanto pressupõe que os poetas e a poesia são de sempre, mais perenes que o monumento mais perene que o bronze de Horácio. Dir-se-ia que a época dos poetas nunca há-de chegar ao fim…
— Ao fim chegará, se já não chegou. O que não quer dizer que os poetas acabem…
— Sempre especioso, meu caro senhor, sempre especioso.

[Abel B. Baptista, no Casmurro]

Atenção! Isto é muito sério.

Comunicado: Abel Barros Baptista, Fernando Matos de Oliveira, Gustavo Rubim, Luís Quintais, Manuel Portela, Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, acolitados por certo Groucho, de vários talentos e múltiplos serviços, comunicam que se associaram na criação de um blogue, Casmurro, já muito apresentável e rescendendo a excelente literatura. O Groucho é o menos Dom Casmurro de todos eles, à primeira vista.

Cultura literária.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros é pouco sensível às memórias literárias do nosso tempo.

junho 13, 2005

PT/PTB/PP/PL/etc

O que ressalta disto tudo é que a desesperada tentativa de salvar Lula no meio da catástrofe que arrasta Dirceu, Genoíno, Ciro Gomes (até tu, Ciro!), etc., etc., pretende que todos sejam imbecis. Como se fosse possível que Dirceu e Lula não soubessem do que se estava a passar. Dirceu recusou-se a comentar o caso em Lisboa, onde esteve agora, mas o eco do desacato chega a todo o lado. Já Lula, com essa imagem do presidente chorando quando lhe deram a novidade, não é para acreditarmos.

Álvaro Cunhal.



O melhor que se pode dizer de um homem de quem se discordava é que continuamos a discordar dele, mesmo depois da morte.

Eugénio de Andrade. Adeus português.



Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

junho 12, 2005

Silêncio.

Sim, eu tenho uma ideia sobre o vídeo de campanha de Manuel Maria Carrilho com a imagem de família pegada à do candidato à câmara de Lisboa; eu não o faria. Nunca. Em nenhuma circunstância (também nunca seria candidato ao lugar, na verdade). Mas no mundo de Carrilho como no mundo dessa gente, o acto é normal. O acto decorre com simplicidade. Tenhamos o pudor de desviar o olhar e de não votar, aqueles que não são do mundo dessa gente.

Achavam que era a brincar?

Ver o post do Dr. Rotwang sobre a corrupção no PT brasileiro.

Para terminar.

O Sporting deixou sair Pedro Barbosa e Rui Jorge assim. O FC Porto deixou sair Costinha e Maniche assim. Uma vergonha absoluta.

Parreira, coitado.

L.M.A., por mail, acha que eu sou «um hooligan que não perdoa a Parreira nem a quem afronta o FC Porto», e que «o Brasil não merecia perder desta maneira». Ah, sim, sou hooligan. Sou hooligan e não gosto de Parreira nem de Zagallo, aquele duo das melodias de sempre que transforma talentos em vulgaridades. Não gostava de Zagallo no Mundial de França e pedi a sua derrota antes da final. Infelizmente, não veio. E Parreira é um chato futebolístico insuportável, só comparável a Scolari, o homem que foi obrigado a mudar a selecção portuguesa já em andamento, depois de ter sido teimoso durante meses de mau futebol (ah, o que eu daria para vê-lo a treinar o Brasil FC, de Pelotas). Nem me interessa que tenha chegado à final. Quanto a não perdoar quem afronta o FC Porto, é mentira. Ponto. Mas o insuportável Parreira disse aquela frase sobre Deco.

Compreendido.

Obrigado, obrigado. O recado era este, mas grandioso, com sotaque porteño: «Diz ao Francisco que gravei o jogo e vi-o duas vezes. E que vamos esperar o Lucho ao aeroporto.» Compreendido. Lá estaremos. Over.

junho 11, 2005

Goelada de Parreira, goleada na Argentina.

Parreira, aquele homem cretino e chato que dizia que «Decos, no Brasil há às centenas», não teve afinal nenhum Deco para opor a uma Argentina que os pôs no sítio. 3x1 foi pouco. Eu gosto de goleadas. E ainda por cima com Lucho (González).

Questão jurídica.

Como a campanha eleitoral dos partidos é, cada vez mais, preparada e decidida por agências de comunicação e agências de publicidade, será possível que o PS venha a ser processado por «publicidade enganosa»?

Conforme se esperava.

1) Sim, quase toda a gente vai criticar José António Saraiva por ter sido entrevistado no Expresso. 2) Sim, Eduardo Prado Coelho correu a defender Manuel Maria Carrilho depois do vídeo da sua candidatura à Câmara de Lisboa; a família é tudo. 3) Sim, passados três meses, Freitas do Amaral já não tem a «unanimidade» atrás de si. 4) Sim, o presidente Sampaio distribuiu mais umas medalhas (nos seus dois mandatos, de qualquer modo, só gastou metade das de Mário Soares, um mãos largas). 4) Sim, a generalidade da imprensa portuguesa continua a pensar que o presidente Lula, coitado, não sabia que o seu próprio partido pagava aos deputados do PP e do PL (e do PTB, bem vistas as coisas) – coitado do Lula, tão coitado. 5) Sim, ainda ninguém sabe como o governo vai cortar na reforma de Luís Campos e Cunha, ou no seu ordenado de ministro.

O partido dos reformados.

Jorge Sampaio, Alberto João Jardim, Fernando Ruas, António Vitorino, António Guterres, Campos e Cunha, Mário Lino, Cavaco Silva. Reformados. Retirados. Aposentados. Subvencionados. Que país absurdo, que país de reformas antecipadas.

junho 06, 2005

Brasil, PT.

Está garantido, portanto, o seguinte: o PT pagava a deputados do PP e do PL cerca R$ 30 mil por mês para votar favoravelmente propostas do governo na Câmara de Deputados.

Discurso sobre a banca e as seguradoras.


Eva Perón

(Sim, há a zona franca da Madeira.)

Remunerações.

Uma coisa é a inveja, o populismo, o blablabla fácil. Outra, a ideia de que as empresas ou instituições atribuem, salvo erro, reformas de oito mil euros ao fim de quatro anos de serviço.

(Os links vão para os textos de Rodrigo Adão da Fonseca, em resposta aos de João Miranda, no Blasfémias.)

Influência.

Claro que a decisão britânica não influencia a decisão portuguesa sobre o referendo ao tratado europeu. A nossa decisão é que, por ser tão clara, está a influenciar a dos outros países da união.



A Time noticia a cartilha do politicamente correcto publicada em Brasília. Com atraso, naturalmente. Mas também, nota-se, com um bocadinho de inveja: os brasileiros, graças sobretudo a intervenções como as de João Ubaldo, não deixaram sequer que a cartilha passasse dos armazéns do lulismo. Já os americanos, claro, tiveram Clinton.

junho 05, 2005

Revista de blogs. O inefável no IP3.

«Anteontem, por volta do meio dia, havia um carro branco da BT estacionado na via de emergência (com os quatro piscas ligados). Na berma, dois agentes impecavelmente aprumados nas suas botas pretas e nos seus coletes reflectores, colhiam frágeis margaridas amarelas.» [Pedro Caeiro, no Mar Salgado]

Deve ser da temperatura.

O Billy Shears escreveu sobre uma das minhas músicas de Verão. Tens viajado muito, tens, Billy.

Revista de blogs. Problemas de teoria literária.

«O mérito desta colecção [«Os Poemas da Minha Vida», do Público] (em que, declaro já o meu conflito de interesses, também irei colaborar) é o de através dos poemas da “vida” de cada um, nós os lermos, aos poemas, e à “vida” de quem os escolheu. Vale mesmo a pena, porque pouca coisa reflecte mais a percepção que cada um tem de si próprio, ou o retrato público que desenha de si mesmo, do que os poemas que escolhe para serem da “sua vida”, mesmo quando não o foram. Principalmente quando não o foram.» [No Abrupto.]

Não-notícia.

Os jornais noticiaram que o ministro Freitas do Amaral, dos Estrangeiros, está solidário com os ministros Campos e Cunha, das Finanças, e Mário Lino, das Obras Públicas. É uma notícia esclarecedora. Hobbes anuncia que está solidário com Calvin. Os pinguins anunciam que estão solidários com a Antárctida. Gonçalo Mendes da Maia manda dizer que está solidário com D. Afonso Henriques. Álvaro de Campos recebeu provas de solidariedade de Alberto Caeiro. Xitãozinho está solidário com Xororó. E Marisa Cruz está solidária com João Vieira Pinto.

Legal e legítimo, 2.

Escreve o A.A. Oliveira, por mail, acerca deste assunto das reformas & salários de ministros:
«Não é legal nem muito menos legítimo. Como pode ser legal a atribuição de um privilégio que viola o Direito e a Justiça? É que a norma escrita pode ser iníqua; logo, ilegal. Está nos manuais. Sobre questão, ler a bíblia “Normas Constitucionais”, de Otto Bashoff, o grande jurista alemão e juiz do Tribunal Constitucional da RFA.»

Anestesia.

(Actualizado) Ou o país anda completamente anestesiado ou o retrato que dele sai nos jornais está mal traçado. A história da reforma acumulada com salário do ministro das Finanças, mais a história das reformas acumuladas com salário do ministro das Obras Públicas, passam em branco. Não defendo que sejam fritos.
A ideia base, segundo compreendi, é a seguinte: os senhores ministros têm essa acumulação por legal e legítima. Mas ser membro do governo e adoptar medidas difíceis como as que estão decididas agora, são coisas sérias e não dependem de pareceres jurídicos. Ao contrário do que diz o ministro das Finanças (que não admite que se levantem «questões morais» a propósito da sua situação, no que tem alguma razão), dependem também de pareceres éticos. A política, além de um pouco de verdade, precisa de um pouco disso, ou nunca entenderemos os apelos ao patriotismo e ao sacrifício em nome da correcção do défice, por exemplo (eu não o entendo, por exemplo, neste quadro). Não se trata de pedir o regresso da moral & dos valores, com vozes arrebitadíssimas, histéricas. O problema, neste caso, não é dos ministros. Eles trataram da vidinha, para usar a expressão portuguesa (e de «forma legal & legítima», segundo parece). O problema é que José Sócrates (e o PS) precisa de explicar melhor como pretende falar de «justiça social», daqui em diante, e manejar o conceito de «direitos adquiridos».

junho 04, 2005

Revista de Blogs. Eurocentrismo.

«A mesma gente que criou o conceito, não a prática, de eurocentrismo também inventou essa bobagem racista de diversidade. Carga positiva sobre um conceito destrutivo.» [No Saudade do Presidente Figueiredo.]

Revista de blogs. Sms.

«Ainda a outra mão descia por ela abaixo, ao ritmo desgovernado da fantasia, gosto mesmo de ti, miúda, quando o telemóvel tocou. Sem abrir os olhos, ela lambeu os dedos molhados e usou o indicador para atender a chamada, antecipando a voz dele, anasalada e sem ponta de graça. Não devias ter telefonado, adiantou-se-lhe». [No Controversa Maresia.]

Rititi.

Ela escreve bem. Há alguns tempos, os blogs femininos do Brasil eram um dos poucos lugares onde mulheres escreviam bem em português: destemidos, vibrando, eufóricos, libertados. Depois, vieram blogs portugueses com mulheres dentro, e escrevendo muito bem. Notava-se. E O Livro da Rititi, apresentado hoje (pela Carla; edição Oficina do Livro) é um exemplo de boa escrita. De bom tom. De alguém que escreve com aquilo tudo. Se alguém me perguntar o que é aquilo tudo, eu não sei. Mas está lá.

junho 03, 2005

Achavam que era a brincar?

Não, era mesmo verdade. As estações de Correios vendem os livros de Paulo Coelho. Aí está uma tarefa para Luís Nazaré: repor alguma qualidade nas escolhas dos expositores de «outros produtos» dos Correios portugueses.

Ganja.

«O ministro da Cultura, Gilberto Gil, parou de fumar maconha aos 50 anos. A revelação fez mais pela causa da ganja no Brasil do que qualquer campanha meia-bomba ou apologia musical. O último disco realmente bom de Gil saiu em 1992, exatamente o ano em que largou o baseado. Parabolicamará. Ê-ê, mundo dá volta, camará. Longe da erva, ladeira abaixo.» [No Alto Volta.]

A boa notícia.

Serão publicados em Portugal, e em colecção especial, todos os livros da série Carvalho, de Manuel Vázquez Montalbán (pela Asa).



Já estão publicados As Termas, Os Mares do Sul, Os Pássaros de Banguecoque, O Prémio, Quinteto de Buenos Aires (na Caminho), Assassinato no Comité Central (Dom Quixote) e Tatuagem (A Regra do Jogo). Assim, em português aparecerão títulos como La Soledad del Manager, El Hermano Pequeño, La Rosa de Alejandría, Asesinato en Prado del Rey, El Delantero Centro fue Asesinado al Atardecer, El Laberinto Griego ou El Hombre de Mi Vida.

Não.

O presidente da UE ameaça demitir-se caso lhe digam que não no referendo de 10 de Julho. Se é assim, não.

O presidente do Benfica ameaça demitir-se se não lhe derem 16,5 milhões de euros.

Legal e legítimo.

A questão não está em saber se é legal a posição do ministro Luís Campos e Cunha ou, até, se é legítimo, e ainda, se «no futuro» esta situação vai deixar de ser possível. Toda a gente sabe qual é a questão.

O sitemeter.

«Se o contador do sitemeter ultrapassar as 200.000 visitas até à meia-noite de quinta-feira (às 00:00 horas de hoje, quinta-feira, registava 199.522 visitas), ofereço um DVD e um livro ao primeiro e segundo leitor, respectivamente, que me mandar um mail após as badaladas da meia-noite de quinta-feira (00:00 horas de sexta).» Carlos McGuffin, no Contra a Corrente.

Revista de blogs. O Estado.

«Além disso, o estado tem a tendência a crescer; você dá um direito qualquer à besta cretina do seu síndico e no dia seguinte ele está gritando em alemão, dizendo que Hitler fez muita coisa certa e entrando na sua casa para confiscar a pornografia.» Alexandre Soares Silva.

Correspondência geral. Feira do Livro.

Sobre a Feira do Livro escreve, por mail, a Helena CM: «Também gosto da feira. E, certamente, não foi o vento frio do fim da tarde de sábado que este ano me causou alguma estranheza. Que faz naquele espaço uma tenda da Igreja Portuguesa de Cientologia, na qual são efectuados testes grátis ao stress? As farturas, os gelados e os cafés, compreendo, mas isto? Haverá por aí alguma explicação?»

Correspondência geral. Futebol.

Nuno Maltez, por mail: «As pessoas andam pelas ruas a gritar "somos campeões" porque, de facto, são perdedores. (...) Sou do Benfica e a minha vida, alegrias e tristezas e conquistas e etc, em nada muda com esta vitória. Parabéns aos jogadores, etc. Uns ganham dinheiro, outros um confortozinho, um bom passatempo. A derradeira e madrugadora coroação dos jogadores, num estádio que é ribombo e trovão, é, mais do que festa, uma espécie de ritual religioso. (...) De resto, a pseudo-contenda intelectual vs. pessoa que gosta de futebol é uma estupidez. Que haja mais e melhor futebol, e menos programas de merda na tv. A conversa do investimento na ciência e tecnologia já tresanda há muito tempo, e é uma boa desculpa para que se cante mais um fadinho, que se fique a ver navios, nem que seja mais um. Quem quer fazer, e sabe como, há-de fazê-lo.»