Como tudo se explica.
«A minha geração achou que era dona do país», diz Saldanha Sanches na Visão; é uma frase a reter. Saldanha Sanches poderia ter dito «a minha geração acha que é dona do país» para assim se explicar parte do falhanço da «classe política»; visto de longe, lá dos altares do espírito, o país é moldável, maleável, transformável, e as soluções adequam-se. Mas quando a proximidade é inevitável, ah, tudo é desilusão. A teoria da choldra (que vem do século XVIII, sobretudo) nasce desse olhar. Mas nem todos eram miseráveis ou cretinos; muitos eram geniais (Cavaleiro de Oliveira, Luís da Cunha, Verney, Sanches). Tornaram-se miseráveis quando (como todos os que carregam utopias infalsificáveis), para além de se julgarem donos do país, se julgaram donos da verdade. Sócrates, que é da geração seguinte à de Saldanha, está na encruzilhada.