julho 31, 2005

Vencidos da vida.

Tem toda a razão de ser a pergunta de Vasco Pulido Valente do Público de hoje: «Onde se meteu a gente dos 40 e 50 anos, que devia agora tomar conta do país, com força, com experiência e uma visão nova?»

E outras coisas.

1) Lula e o negócio do filho com a Telemar (que lhe ofereceu uma empresa com dinheiros públicos). Ler aqui como Lula sabia do negócio.
2) Escândalo já envolve 19 crimes. Ler aqui.
3) Lula e Dirceu (hoje na Folha, indisponível o online): «Não sei se teríamos conseguido fazer o que fizemos na nossa relação com o Congresso se a gente não tivesse a coordenação de um companheiro como o José Dirceu. (Dezembro de 2003)» / «Não sei todos os acordos que ele faz no Congresso. O fato concreto é que, nos momentos difíceis, o Dirceu, o presidente Sarney, os nossos líderes e o João Paulo, depois de tanta choradeira, me comunicavam: "Olhe, foi feito o acordo, vai votar amanhã e vai passar".» (via Noblat)
4) João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara [presidente do Parlamento], deverá ser o primeiro parlamentar ligado à lista de pagamentos de Marcos Valério de Souza a renunciar ao mandato. OESP de hoje.

Leia aqui
a coluna de Elio Gaspari, no O Globo de hoje.

Coisas que só visto.







A Folha de São Paulo publica na edição deste domingo fotos atrevidas da secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, uma das peças-chave do escândalo do mensalão. Havia rumores de que tinha sido convidada pela Playboy para posar nua. Link para o ensaio fotográfico.

Jornalismo & credibilidade. O Brasil no Aviz.

Alguns leitores e amigos têm escrito sobre a «cobertura» que o Aviz faz da situação brasileira. Não é coisa nova. Há anos que acompanho o assunto. A primeira vez que isso aconteceu foi na altura das Directas Já!. Não vale a pena contar mais. Tenho escrito bastante sobre o Brasil nos últimos vinte anos: gabo-me de ter chamado a atenção sobre muitos escritores brasileiros pela primeira vez em Portugal; e de conhecer o país (apenas não estive em Roraima, já agora); e de ter lido bastante. De vez em quando encontro outros entusiastas que também sabem que o Brasil não é só samba, musiquinha, futebol e praias (mas é também isso). Na literatura portuguesa dos finais do século XIX, o Brasil era tratado como «os brasis» -- tinham razão, eles. Os Brasis. O sul, o norte, o nordeste, a meia-norte, o sudeste, o sertão, as chapadas e os grandes rios, a floresta, a serra, o pampa, tudo. Uma das acusações que de vez em quando me fazem é a de que a minha informação está inquinada. O argumento usado é o de que cito muito a Veja. Não é verdade. Ambas as coisas não são verdade: 1) que eu cite muito a Veja; 2) que a Veja não seja credível. Eu tenho um caso com a Veja, sim, porque acho que a Veja é muito bem feita e raramente tem sido desmentida (ao contrário da Isto É, por exemplo) nas suas investigações. Quando era director da Grande Reportagem tínhamos um acordo de colaboração com a Carta Capital, por exemplo. Mas, embora conheça alguns repórteres da Veja e seja até leitor de Mário Sabino como romancista (ele é editor da revista), não cito muito a revista. Et pour cause. É uma guerra portuguesa, evidentemente (sobretudo quando as pessoas dizem, «ah, mas a Veja não é um modelo de jornalismo!»). Pelo contrário, et pour cause, cito bastante os três majors: OESP, Globo e FSP. Mas a lista de jornais que frequento está nos links do blog. Aí ao lado, em baixo. Embaixo. Não citarei a Caros Amigos, evidentemente, nem os jornais ligados a partidos e influências locais. Mas reservo-me o direito de ter as minhas próprias informações.
O caso brasileiro é complexo em Portugal e complexo na Europa. Tem Lula pelo meio. E tem a vitória da esquerda há dois anos. O caso brasileiro transformou-se numa questão de fé. No dia das eleições que deram a vitória a Lula, recordo como foi tratada na televisão portuguesa a única pessoa que declarou que não tinha votado Lula e que assumiu a sua desconfiança (curiosamente, foi um treinador de futebol, Marinho Peres -- todos os outros, desde sambistas de aluguer a actores falavam dos novos tempos que estavam aí, como uma promessa de paraíso): houve quem se risse dele, do desgraçado e incréu.
Bom. Eu sou incréu, na verdade. Reservo a minha fé para outras áreas e a minha credulidade para questões pessoais. Acompanho a política brasileira desde há vinte anos; vi as multidões em redor do funeral de Tancredo e também a vi em redor de Collor (à hora a que Collor era eleito, estava em Lisboa a entrevistar José Wilker, que votava Lula). Vi o impeachment de Collor. Sarney, Itamar, FHC, Lula. Fui parcial algumas vezes, sim. Confesso: nunca gostei de Collor nem de Itamar nem de Sarney (nem do que ele escrevia). Desconfiei da tucanagem como toda a gente, mas acho que o governo de FHC foi o melhor que pôde acontecer ao Brasil naquelas circunstâncias. Sim, li coisas inacreditáveis. Li até Frei Betto, imagine-se (mas também li Paulo Coelho…). Li a propaganda petista (inimaginável). Não interessa.
Mas sou incréu. Fui incréu em relação a Lula e previ que acontecesse isto. Escrevi-o antes das eleições, quando os jornais, as rádios, as televisões, tratavam Lula (em Portugal) como a segunda aparição da Virgem. Não era. Mas, à parte a parcialidade da minha própria opinião, não fui parcial nem escondi factos nas minhas reportagens, nem acrescentei outros.
Os políticos do centrão português veneram Lula por provincianismo, porque ele era o operário e o retirante que chegou ao Planalto. Há dois anos era difícil dizer mais do que isso. Eu disse e escrevi. Não escondi factos. Limitei-me a isso. Lembro-me de quando o Manuel Carvalho, num editorial do Público, logo na altura das eleições, chamava a atenção para as contradições do lulismo e do novo poder petista – e das muitas cartas de leitores indignados com o «soez ataque» a Lula e ao Brasil. Linchamento.
O que me interessa neste escândalo político actual no Brasil não é a derrota de Lula nem a queda do PT. Isso é o menos. Lula significou, para muitos brasileiros, a redenção por anos de humilhação diante das oligarquias. Eu compreendo isso. Claramente. Mas acho, a esta distância, que o Brasil precisava de passar por isto, para compreender que ética e política são coisas diferentes e que a esquerda brasileira não tinha o exclusivo da moral nem da ética. Nem era seu património.
Muitos mails dizem que este escândalo é inventado pela imprensa. Não é. É uma prova de que fé e política não funcionam juntos. E de que este escândalo revela até que ponto o PT se preparava para transformar o Brasil numa espécie de «México do PRI» com o apoio da imprensa aliada, do dinheiro e da lavagem ideológica permanente.

PS - No final do ano passado, quando todo este escândalo já se desenhava, a Isto É escolhia José Dirceu como personagem do ano e a Isto É Gente decidia-se por Marta Suplicy.

PS - Lembro quando comecei a chamar a atenção, em Portugal, para as crónicas de Diogo Mainardi e de como a reacção era violenta: escroto, escarro, era o que diziam. Mainardi é brilhante. «Ah, mas não é o Paulo Francis!» Quem disse isso? Mainardi foi o único que arriscou a cabeça e o emprego de colunista. Disse o que pensava e daquela maneira.

julho 30, 2005

Novo Rubem Fonseca. Morram!



















Novo romance de Rubem Fonseca, A Bíblia e a Bengala, com Mandrake (o advogado criminalista da sua obra-prima, A Grande Arte) como personagem principal. Morram de inveja porque o livro ainda não está em distribuição. Mas estão aqui extractos do romance em primeira mão.

Relatos da frente. (Actualizado)

Afinal é Dirceu que faz chantagem verdadeira, segundo parece e é publicado na edição da Veja de hoje; e sobre o próprio Lula. E, em relação a post anterior sobre assunto, agora é assessor de José Dirceu, o ex-número dois de Lula (e ex-funcionário dos serviços secretos cubanos) que confessa que também recebia de Valério.

Entretanto José Dirceu desmente a revista Veja. Aguarda-se o depoimento de Dirceu na próxima terça-feira, na CPI. Porque há um problema técnico.

NESTE DOMIGO: afinal é própria directora da agência de Marcos Valério que confirma a notícia da Veja. Tudo volta ao princípio. A Veja tinha razão.

Opacidade?

Caro Paulo: o problema não é apenas o da Ota e o dos seus relatórios secretos ou opacos (bondade tua, chamar-lhe opaco, ao processo). A questão está na ideia sobre a natureza do Estado. Desta vez não conhecemos os relatórios sobre o novo aeroporto (e eu creio que se devem ler com ironia as declarações de Fernando Pinto acerca desses relatórios); mas, antes, diz lá, quem é que achava que não se deviam divulgar relatórios sobre as universidades e as escolas públicas? Quem é que esconde relatórios e estudos sobre o prolongamento do metro em Lisboa? Onde estão os relatórios sobre as obras no Terreiro do Paço?

25 mil milhões de euros são ou não são dinheiro? Os contribuintes devem ser informados ou não? É estranho, ou não?

Mais dicionário de soundbytes, de Groucho.

Mais entradas no dicionário de soundbytes, de Osvaldo M. Silvestre, no Casmurro. Por exemplo: e-mail:
«1. Segundo o Dicionário da Academia, deve antes dizer-se «correio electrónico». Por exemplo: «Recebeste o meu correio electrónico, doçura?». 2. Os brasileiros chamam-lhe imeio e os espanhóis Emílio. Os portugueses chamam-lhe imeile. 4. Serve para tudo (amor, negócios, circulares, etc.), economiza em papel e selo e ainda permite que se lhe pendurem anedotas visuais sobre Bush (v.), Bin Laden (v.) ou Durão Barroso (v.) e fotos de mulheres nuas. 5. O problema vai ser depois, quando se quiser editar a «Correspondência Completa» dos escritores de hoje. Sobre este dilema filológico, consultar Ivo Castro.»

Traduções, 2.









O alfabeto. No Casmurro.

Contribuição de Abel Barros Baptista: «Consideremos a contribuição judaica, imprescindível. Sinais de baixo para cima, primeiro. Jacob era extremamente pobre. Nem tinha casa, vivia de ajudas esporádicas. Um dia, comprou um bilhete de lotaria e ganhou o primeiro prémio, uma fortuna enorme. Comprou logo casa em local central, um duplex mobilado, moderno. Pediu ajuda para se vestir com roupa elegantíssima. Um Mercedes, último modelo, foi a última aquisição. Tudo pronto, casa organizada e habitada, decidiu-se, enfim, a sair à rua. Quando pôs o pé no passeio, um autocarro desgovernado passou-lhe por cima. Morreu, claro. Mas pouco antes de expirar, olhou o céu, perguntando: — Senhor, agora que eu ia ser feliz, porquê eu? E uma voz faz-se ouvir, vinda de cima: — Ó homem, desculpa, não te reconheci.»

Traduções, 1.












Interrupção

Nós interrompemos os trabalhos dos deuses,
seres inexperientes e apressados do momento.
Nos palácios de Elêusis e de Ftia,
Deméter e Tétis iniciam boas obras
entre chamas altas e fumo denso. Mas
Metanira precipita-se sempre dos
aposentos reais, desalinhada e assustada,
e Peleu sempre temeroso intercede.

Konstandinos Kavafis, 1901
Tradução de Carla Hilário Quevedo

No Bomba Inteligente.

Cozinha Confidencial.

Se não estivesse sem dormir há 36 horas, esta noite tinha-me levantado a meio da leitura do Kitchen Confidential de Anthony Bourdain. Aquela sugestão culinária, lá para as páginas sessenta e tal, é mais do que comovente. Mas dormi. Felizmente.

Revista de blogs. MTV.

«Un poco hasta el chochete, que quieres que te diga, de tanto cantor emetiví meio apaneleirado, com o seus bonés de marca, as calcinhas caídas, olhar lânguido e sensual, ie, ie, jovens imberbes que seduzem a adolescência planetária à base de estrofes afinadas e letras de amor sem sal, sem pimenta, sem essa garra de macho que nos faz às mulheres arranjar o cabelo, molhar os lábios, roer as unhas e desabotoar a camisa. Ie, ie, beibe, ai love iu, e mais nada, sem emoção, sem que ao grelo se lhe estimule mais vontade que mudar de canal, de estação de rádio e de época vital, para aqueles anos em que os gajos eram machos e copulavam para espalhar os genes por esse mundo fora.» [No Rititi, que mudou de endereço.]

Revista de blogs. Sobre limites e descobertas.

«Desde que eu sinta prazer, mas eu mesma me coloco certos limites, essas coisas, acho que foi a criação, não sei explicar direito e também tem algo a ver com os caras que eu me relacionei e, óbvio, comigo mesma.» [N, leitora do blog Saudades do Presidente Figueiredo, citada pelo autor, Dante.]

TeleSur

Afinal, o «projecto anti-capitalista» (por não ter publicidade?) da cadeia de televisão TeleSur pan-latino-americana é financiado pelo petróleo venezulano e dirigido pelo ministro das comunicações venezuelano.

Desta vez o Brasil não acompanhou o delírio de Chávez e não entra na sociedade directamente, ao contrário do que anunciou a imprensa portuguesa.

Golpe de misericórdia.

Um assessor do PP confirma e dá o golpe de misericórdia: sim, ele levava malas de dinheiro das empresas de Marcos Valério. Para onde? Para o Congresso de Deputados. Mas há divergência: um deputado diz que o local referido é a presidência do PP, e não a tesouraria. O PP é um dos partidos aliados de Lula, o do presidente do Congresso, Severino Cavalcanti. O anterior presidente do Congresso, João Paulo Cunha, uma das grandes figuras do PT, também já levantava (através da mulher) dinheiro proveniente de Marcos Valério. A notícia acompanha a descoberta de outro deputado do PT que também levantou milhares de reais da mesma conta.
Entretanto, depois das denúncias da Veja sobre sucessivos avisos (de vários políticos) ao presidente Lula sobre a existência do escândalo, outros dizem também que Lula sabia.

Uma das colunas mais curiosas da última semana é a de José Nêumanne, no Estado de São Paulo de quarta-feira passada, na sequência da declaração de Lula sobre «não ter lições de ética a receber de ninguém». Nêumanne recorda a Lula vários episódios, nem tão recentes nem tão antigos, sobre escândalos e indícios de mexicanização do PT, que Lula encobriu e que o PT abafou e suprimiu. Exemplos: a demissão e perseguição a Paulo de Tarso Venceslau (que denunciara o suspeito «caixa 2» do PT comandado por Roberto Teixeira) ou o assassinato do prefeito de Campinas. Sem falar do favorecimento da Telemar ao próprio filho de Lula, ou do crescimento interessante das empresas do ministro Luis Gushiken, cerca de 630% nos últimos dois anos, com fundos de pensões governamentais.

julho 29, 2005

Azul.

Por motivos díspares, mas não disparatados, os meus dias de sorte coincidem com derrotas do Boca. Desta vez, o FC Porto marcou-lhes dois, «con la defensa del Boca rendida a sus pies».

Gávea!










O Gávea regressou.
Há notícias avulsas sobre edição brasileira, como de costume, e um conto sobre o Quijote perdido em Buenos Aires.

Revista de blogs. Castigos.

«E o chefe da nação vem dizer que o brasil não merece o que está passando. Merece, sim, mr. desentendido da silva. Foi isso que o país elegeu, não tá lembrado?» [No Nibelunga do Cabelo Duro]

Revista de blogs. Televisão.

«Tenho uma televisão panorâmica a cores. E um panorama cada vez mais negro.» [No What Do You Represent?]

Quem os viu.

Eu acho bem que os governos actuem em caso de buzinões, marchas lentas e cortes de estrada. Também acho bem que não seja permitida a barulheira das galerias durante as sessões do Parlamento. Mas eu sempre achei isso. Nunca defendi buzinões, marchas lentas e cortes de estrada ou que se passe a portagem da Ponte 25 de Abril sem pagar. Mas é bom ver que não estou sozinho. Quem os viu.

Denise.

Nas últimas duas semanas tenho acompanhado as declarações e a intervenção da deputada brasileira Denise Frossard, do PPS (RJ), em torno da CPI dos Correios. Na verdade, tem sido uma voz excelente e a primeira a formular a acusação de formação de quadrilha e a possibilidade de Delúbio Soares entrar na prisão. Denise, que foi juíza, tem aquele aspecto e usa ternos Armani e colete. Gosto. No meio do espectáculo (o senador Sibá, do Acre, leva queijos e bolachas para a sala de audiências da CPI), Denise transporta consigo uma ideia: a de que tem de haver decência na política. Dizer isto noutro lugar, é fácil. Mas no Brasil, no meio de investigações que podem atingir o próprio Lula, haver alguém que o diga dessa maneira, é forte.

Como se sabe, o escândalo e a CPI dos Correios, que funciona em pleno e cujo trabalho ainda não está a metade do caminho, já varreram a direcção do PT e o topo do governo. Se o PT tivesse conseguido, como queria, silenciar a imprensa (e continuar a expulsar jornalistas), controlar as televisões e submeter o Judiciário, seria muito mais difícil, por exemplo, ouvir Denise Frossard.

Ele não devia usar esse nome. (Actualizado)

O presidente do Supremo Tribunal brasileiro, Nelson Jobim, tenta de tudo para «blindar» Lula seja qual for o resultado das investigações. Há um ano no cargo, Jobim foi um aliado firme do PT para que o Judiciário perdesse a sua independência e se submetesse ao governo e ao partido de Lula. Ele não merecia usar esse nome, Jobim.

A Patrícia acrescenta, nos comentários aí acima: «Para a deputada e juíza Denise Frossard (PPS-RJ), Jobim "perdeu uma boa chance de ficar calado", sugerindo que não é competência do Judiciário intervir nas negociações políticas entre Executivo e Legislativo (o presidente do STF sugeriu uma "pacificação" para que a democracia não seja ameaçada por um eventual afastamento de Lula por conta das denúncias de "mensalão" e caixa dois."»

Amesterdão.

Hoje, além de portista, sou do River Plate.

Ota!

Caro Paulo:a ideia de que é necssário esclarecer, em relação à Ota e ao TGV «o seu contributo para a crise orçamental, para a competitividade, bem como a sua viabilidade e utilidade» parece-me francamente boa. Todos a temos chamado, aqui e ali, tendo como base esses princípios muito claros: não há estudos a justificar a Ota; não há acordo sobre o TGV (não precisa de haver unanimidade); as obras públicas anunciadas pelo governo vão, como de costume, gerar alegria nas grandes empresas do betão e da infra-estrutura, além de emprego e «desígnios nacionais», mas não se lhe conhecem grandes virtudes em matéria de incremento da produtividade e de imaginação. Mais do mesmo, não concordas?

Irlanda.










Para quem conhece a Irlanda e a história do Eyre e do Ulster nos últimos cem anos, a decisão do IRA é a única possível. Não sei se a memória de Londonderry poderá voltar a ser apenas a de Derry, mas creio que sim. Pelo menos os domingos de Páscoa não voltarão a ser sangrentos.

Mandatos prolongados, meus amigos.

O Parlamento aprovou a limitação de mandatos dos autarcas, mas com efeitos práticos só em 2013. Ainda há tempo, meus amigos, ainda há tempo.

Chiraco-mundismo.

Artigo de Paulo Tunhas na Atântico sobre o google de Chirac e a ideia de que o Google ameaça a Europa. (via João Miranda)

Curiosamente, Hugo Chávez lançou esta semana a TeleSur para ser «uma espécie de Al Jazeera da América Latina».

Soares.

Está dito, está dito (o artigo desta semana no JN).

julho 27, 2005

No melhor fórum cai a nódoa.

O Estado de São Paulo revela hoje que os dinheiros do PT & de Marcos Valério & das suas empresas & dos seus bancos (cerca de meio milhão de $R) também caíram directamente na organização do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre. Por um lado, José Bové não é um hóspede barato, evidentemente; por outro, já não há pecados originais.

Anthony Bourdain.

Estou envolvido com os livros do Anthony Bourdain. Li A Cooks' Tour. In Search of the Perfect Meal em dois ou três dias e preparo-me para o arranque das primeiras páginas do livro anterior, o mais famoso, Kitchen Confidential. Tenho direito ao meu habeas corpus.

Reencontro com a história.

Zapatero defendeu que todos os países estão sob a ameaça do terrorismo extremista islâmico, independentemente do seu envolvimento militar ou não no Iraque. Ah, o que dirão agora? Que Zapatero enfileirou pela terceira via. Traidor. Afinal, havia atentados antes do 11 de Setembro.

Portugal Fashion.

Os coletes reflectores, obrigatórios desde Junho, podem ser guardados na bagageira. Os coletes podem ter diversas cores. Não existe qualquer imposição legal que exija a utilização do colete desde o momento em que o condutor saia do carro. Ah, senhores, tudo isto é um desastre. Tudo isto é mau para a nova moda já em vigor nos carros portugueses. Não é obrigatório? Não há imposição legal? Ah, o que vai ser de nós?

Soares presidente.

Ver o texto do João, no Portugal dos Pequeninos.

Está bem.

O primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, pediu hoje a rápida retirada das tropas norte-americanas do Iraque.

Revista de Blogs. Intimidade.

«Com o aumento do número de blogs, fotologs e videologs, em breve a intimidade deixará de ser uma coisa, digamos assim, íntima. "Tenho que conversar com você, minha querida, mas não sei se aqui é o lugar ideal. Estamos só nós dois."» [Fabio Danesi, no FDR]

Revista de Blogs. Estrelas.

«Não fosse esta coisa aborrecida da redução do orçamento comunitário, Carlos, e eu até estava capaz de te propor sociedade para uma joint-venture à maneira: enquanto tu contavas aí em baixo, eu ficava cá por cima – uma, duas, três, quatro – a contar as estrelas todas do céu. Mas é preciso não desonrar a pátria. Isso nunca. Não devemos fazer nada que não tenha subsídio.» [Manuel Jorge Marmelo, no Nariz de Ferro]

Revista de blogs: coincidências.

Um blog inteiro.

Paulo.

Obrigado, Paulo Gorjão.

julho 26, 2005

Idade.

Se há argumento pernicioso é o da idade: Soares poderia candidatar-se aos noventa anos. Seria um bom sinal; a vida política não tem de ser entregue à rapaziada com bom aspecto. O problema da candidatura de Soares é que vai aproveitar a sua própria idade para pretender tornar indiscutíveis as suas ideias. É um poderoso instrumento de marketing.

«Um acto cívico e pedagógico.»

Toda a gente anda satisfeita com o «acto cívico e pedagógico» de Mário Soares. Uma tal quase unanimidade é muito preocupante. Cívico, está bem, tal como votar, pagar impostos ou aprender a assinar o próprio nome; pedagógico, é um abuso só desculpável com a ideia que o próprio faz da República.

julho 25, 2005

O regresso do rei.

Só para abreviar: a recandidatura de Mário Soares à presidência significa um envelhecimento muito significativo da própria República. Não que seja mal ser velho. Pelo contrário, a sabedoria é um valor em si mesmo, e isso é quase sempre uma vantagem. Mas o envelhecimento, em certos casos, mistura velhice & ressentimento.

Play-back.

O governo chinês considera que os músicos que usam playback nas suas actuações em palco são criminosos e as multas são pesadíssimas. Eu prefiro o playback. No palco desafinam muito.

Blogspot.com

Se isto fosse um blog, seria uma coisa completamente diferente.

julho 21, 2005

Interrupção.

Interrupção na interrupção. Voltaremos a qualquer momento.

julho 13, 2005

Ah, Groucho!

Quando escrevi isto, não sabia que iam postar isto e seguintes. Ah, Casmurro.

julho 12, 2005

Revista de blogs. Vícios.

«Vício é que nem bunda: todo mundo tem, mas acha melhor esconder – e não é bonito ficar falando do formato alheio.» [No Garotas que Dizem Ni.]

Melhor do que a encomenda.

Tarso Genro, o novo presidente do PT na Folha: «O PT perdeu a bandeira da ética? Ainda não. A bandeira é recuperável. O risco existe [Que o PT perca a credibilidade e a viabilidade como partido eleitoral].»

Ah, diz-me toda a verdade.

«O relatório do Banco de Portugal salienta a interrupção do processo de ajustamento da economia em 2004, devido em especial à subida do consumo no primeiro semestre.» «O Banco de Portugal baixou em mais de um terço, para 0,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), a previsão de crescimento da economia portuguesa para este ano.» Tudo antes do Verão.

Dicionário do Diabo.

A ler os posts de Osvaldo Silvestre sob o título Dicionário de Soundbytes, no Casmurro, um blog a não perder, nunca.

O Aviz em serviço público. Links aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Livros do Brasil.













Já não há desculpa para não ler alguns dos clássicos brasileiros. A Cotovia começou a publicar a colecção Curso Breve de Literatura Brasileira, dirigida por Abel Barros Baptista. Algumas das melhores coisas da língua portuguesa estão aí.

Divinos sinais.

Não sei bem se é isso. Mas a vantagem da rede sem fios, wifi, para me ligar à net, é o milagre deste Verão.

julho 10, 2005

Internacionalização da economia de ponta.

Depois de rumores sobre a vaguíssima entrada do banco BES no rol de nomes do escândalo do mensalão lulista, perdão, petista, no Brasil, outra notícia sobre a internacionalização da nossa economia, agora com a Volkswagen. Infelizmente, é apenas uma vaguíssima participação, nada de escandaloso ou muito saboroso. Mas sempre é uma pequena glória luso-brasileira.

De volta à sociedade civil.

O meu amigo Rui. Espero que regresse ao Companhia de Moçambique.

Revista de blogs. Ninguém te manda.

«-Bom dia! Tem o Jornal de Letras?
[…] Trejeito pensativo.
menino, de letras são eles todos.» [No Daedalus.]

Revista de blogs. A festa do colete verde.

«Placa de platina na cabeça, ii. O banco de um veículo vestido com colete fluorescente, daqueles com o número autorizado e tal, não é uma questão de desgosto. É uma questão de preço. Há um ano aconteceu o mesmo com a bandeira da pátria com pagodes.» [Segismundo, no Albergue dos Danados.]

Revista de blogs. Londres.

«Londres. É a guerra total mas não vemos o inimigo. Morrer sem combater, foi-nos reservada a pior das indignidades.» [No A Natureza do Mal.]

Revista de blogs. Questões de política geral.

«Uma das premissas para um sujeito não querer nunca ser "reacionário" e "de direita" é acreditar que pessoas ricas e desmioladas e egoístas não têm simpatias esquerdistas. Ou que apenas as pessoas que não têm simpatias esquerdistas são ricas, desmioladas e egoístas. Mais ou menos assim: as patricinhas loiras de calça colada e cabelo superliso não votam no Lula. [...] O curioso é que todas as fulanas que conheço que se encaixam exatamente na tal descrição (bonitinha, patricinha, ansiosa para parecer sofisticada, com bastante dinheiro para supérfluos todos os meses - ou seja, a definição da mulher desmiolada e burra, para os que têm simpatias esquerdistas) votam no Lula, são "contra o monopólio econômico dos EUA", "contra a religião organizada" e "a favor do aborto" (o que, para 90% da população mundial, faz delas mulheres inteligentes). Então eu me pergunto: onde estão as tais blonde bimbos de verdade, as burras & loiras & ricas que não têm simpatias esquerdistas? A única explicação é que elas automaticamente passam a ser do lado do "bem" quando pensam feito eles e votam no Lula e todo o resto ("ah, gente, tudo bem que ela seja patricinha, né, mas é inteligente").» [No Miss Veen]

Revista de blogs. Como vencer a blogosfera.

«Como vencer uma discussão fazendo uma dancinha de vitória.» Ler o post do Alexandre.

Revista de blogs. Coisas que acontecem em São Paulo.

«Carla atravessou a rua usando apenas saia. Do outro lado encontrou seu inimigo, nu, excitado, de camisinha já posta. Ele veio no seu rumo, mergulhou nela e os dois fizeram amor rolando e rodopiando pela calçada, até que o solo tremeu de paixão. A lua, as estrelas, os postes, os faróis, tudo vibrava, tudo era amor.» [No Santaputa]

Revista de blogs. Castigos divinos.

«Deus não vai agüentar a multidão de puxa-sacos e demais. Em vez disso, seguirá Seu plano de punir os pecados de cada geração com o castigo correspondente, como tem feito desde há algum tempo. Por exemplo: à liberação sexual dos anos 60, Deus respondeu com Delfim Netto. À new wave da década de 80, respondeu com a AIDS.
"E a década de 70?" – perguntareis. Na verdade, Deus nada teve a ver com aquilo, pois o castigo da disco é a própria disco.» [no Radamanto.]

A Casa Quieta.













Surpresa: o romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, A Casa Quieta (Dom Quixote).

«...pássaros organizados a cercarem-nos, cegos por moedas migalhas notas, nem sequer a pretinha ou a tua mãe, as mulheres que quis eram mulheres que me queriam, que me desejavam, não necessariamente para investir, cinco seis sete vezes, mas quem sabe, deitarem-se ao meu lado a rir, de vestido molhado pelos salpicos do poço, debaixo das árvores da primavera, morango baunilha buganvília rosas água fresca malmequeres...»

Tecnocratas.

Não sei se alguém no governo ficará preocupado com estas declarações de Jorge Coelho.

Revista de Blogs. Minimalismo.

«E para os devotos dos blogs minimalistas, e pelo mesmo preço, vos digo, hoje faria um post praticamente melancólico, dizendo que: em terra de passarinhos que tem olho é coruja, e em terra de marinheiros quem tem mamas é maruja.» [No Opiniondesmaker]

Imprensa.

De dois debates que ouvi, com a presença de jornalistas, elogiou-se muito a contenção da imprensa britânica depois dos atentados terroristas de Londres; elogiou-se a sua sobriedade, o respeito pelas vítimas, até a natureza das perguntas dos repórteres aos londrinos que saíam da cena do crime. Elogiou-se o código de conduta da BBC e o respeito por ele, em qualquer circunstância. Eu não acreditava que estava em Portugal, o país em que as televisões anunciam arrastões e fazem directos da Cova da Moura.

Carcavelos.










Não resisto a republicar a foto (do Pedro) tirada nos areais de Carcavelos. Este é o verdadeiro arrastão.

Amiguinhos.

A esquerda já vê em visitas ao Estádio do Dragão uma jantarada conspiratória de direita, em busca de amigos.

Notícia extraordinária. Mais maldade.

Petista preso com dólares na cueca é exonerado. «O assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva foi demitido neste sábado, após ter sido preso ontem no aeroporto de Congonhas, carregando R$ 200 mil numa valise e mais US$ 100 mil presos em sua cueca. Vieira é assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do presidente nacional do PT, José Genoino, que renunciou nesta manhã ao cargo. (Aqui

Maldade.

A notícia de que Tarso Genro, o ministro da Educação que Lula tirou a Porto Alegre para substituir Cristóvam Buarque, é o novo presidente do PT. Ou seja, segundo se murmura, vai trabalhar de ouvido (e quem sopra é Dirceu). Mas tem uma vantagem: Tarso deixou o Ministério da Educação.

(Genoíno deixa a direcção do partido e diz que tem pensar «como sobreviver na vida».)

Mensalão português.

Tinha de acontecer. Pode haver, parece, uma ligação entre o banco BES e o «mensalão» PT/Jefferson. Papel instrumental, claro, e ligeiro. Mas tem essa sombra: negócios com o poder, qualquer que seja o poder.

Arrastão de Carcavelos. Portugal desmentido.

A manchete do Expresso é assim mesmo: a polícia, afinal, declara que não houve nenhum «arrastão» em Carcavelos. Mas também declara que foi pressionada para dizer que houve. Desde quando é que a polícia é pressionada para dizer que houve um «arrastão»?

Outro eu, definitivamente.

A ideia não é nova, mas tem aparecido aqui e ali. Ninguém é exactamente uma mesma e única coisa, mas convém que um governo seja animado por um princípio de coerência. Por exemplo: dizer «eu defendo o Estado social» e iniciar uma campanha acelerada de privatizações. Ou dizer «eu quero controlar decididamente o défice e emagrecer a Administração pública» e negar que se vão fazer despedimentos na Administração pública ou prometer grandes obras públicas determinadas pelo Estado. Mas a verdade é esta: acontece.

Eu e as touradas.

Eu e as touradas não temos relação nenhuma. Mas, numa passagem pelo café da vila, vi pela televisão duas coisas que me deixaram orgulhoso, nem sei bem de quê: um forcado preto ovacionado de pé depois de uma pega extraordinária, e uma cavaleira loira que parece que se portou bem. Nenhum deles tinha patilhas.

julho 08, 2005

Vidas miseráveis.

No Alfa Porto-Lisboa, um cavalheiro telefona para vários amigos, perguntando se o tinham visto na televisão, de tarde. Muitos tinham visto.
«A merda das bombas tirou-me meia-hora de conversa», explicou ele, um cavalheiro da indústria da comunicação. «Aquele Blair meteu-se com eles, levou.» Há pessoas com vidas miseráveis.

julho 07, 2005

Londres, 2.

Composed upon Westminster Bridge (3 September, 1802)

Earth has not anything to show more fair:
Dull would he be of soul who could pass by
A sight so touching in its majesty:
This City now doth, like a garment, wear
The beauty of the morning; silent, bare,
Ships, towers, domes, theatres, and temples lie
Open unto the fields, and to the sky;
All bright and glittering in the smokeless air.
Never did sun more beautifully steep
In his first splendour, valley, rock, or hill;
Ne‘er saw I, never felt, a calm so deep!
The river glideth at his own sweet will:
Dear God! the very houses seem asleep;
And all that mighty heart is lying still!

William Wordsworth (1770-1850)

Londres.

London I wander thro' each charter'd street,
Near where the charter'd Thames does flow.
And mark in every face I meet
Marks of weakness, marks of woe.

In every cry of every Man,
In every Infants cry of fear.
In every voice, in every ban,
The mind-forg'd manacles I hear.

How the chimney-sweeper's cry
Every blackning Church appalls;
And the hapless Soldiers sigh
Runs in blood down Palace walls.

But most thro' midnight streets I hear
How the youthful harlot's curse
Blasts the new-born infant's tear
And blights with plagues the marriage hearse.

William Blake (1757-1827)

Leis de Murphy.

Há uma grande discussão sobre se o governo aumentará, ou não, os impostos, ou se criará mais. Temo bastante que as pessoas se tenham esquecido das «leis de Murphy». Claro que os impostos vão aumentar.

Transportes. O mundo já não é o que era, 2.

Gare de Oriente, na fila para comprar o bilhete para o Porto. Um casal holandês, jovem, faz um questionário completo ao funcionário da blheteira. Este, depois de ouvir, recomenda determinado comboio, sugere um bilhete ida-e-volta porque é mais barato. Num inglês irrepreensível. Eles decidem e fazem mais algumas perguntas. O funcionário sorri, diz que sim, e entretanto aproveita para lhes corrigir o inglês. Havia um tempo verbal incorrecto e um complemento directo fora do sítio. Chega a minha vez:
«Belo inglês, hein? Parabéns.»
«Eh, eh, eh. O mundo já não é o que era.»

Transportes. O mundo já não é o que era,1.

Aeroporto de Lisboa, às 7:30 da manhã. Turistas a embarcar para o Brasil, executivos apressados para as linhas europeias, etc. Encontro-o, de t-shirt, preparado para o check-in para S. Paulo.
«Para onde vais?» [pergunta desnecessária, mas com algum efeito]
«Para S. Paulo.»
«Vais de férias?»
«Não. Vou a uma prova de vinhos.»
«Eh, eh, eh...»
«O mundo já não é o que era.»

julho 06, 2005

Jogo de cifras. Em benefício do hooligan.

Charlotte, vamos tratar de aspectos estratégicos, portanto. Os bilhetes do inaugural da Liga ficam por minha conta, mas o jantar tardio corre por vos.

Levarei a bandeira do imortal, embora sejam admitidos pendões do River (por Lucho e pelo Carlos) e do Grêmio (por Anderson e por mim). Os outros estão em fase de observação .

Cifra entre hooligans.

Charlotte, diz-lhe que era bom que preparássemos a ida ao jogo inaugural. O Carlos pode levar-te, não? Quanto ao Lisandro, tenho esperanças.

Arrastão de Carcavelos. Portugal em cores.

Já muita gente percebeu o que se passou em Carcavelos a esta hora. Mas as melhores fotos vêm no Céu sobre Lisboa. Sobretudo esta, a do meu país em várias cores.

Lucho. Uma cifra de hooligan.

Charlotte, diz-lhe que o Lucho já chegou e que não tenho pena que o River tivesse ficado sem ele. Aliás, o Lucho vai ajudar-nos a massacrar o Boca, em Amesterdão, tão certinho como isto.

Adufes.

Parabéns atrasados ao Rui, do Adufe, verdadeiro apontador da blogosfera portuguesa. Graças a ele não podemos desculpar-nos com falta de atenção. Basta lê-lo. São dois anos, claro.

Dois anos também comemorados pelo Pantalassa, outra ponte entre continentes a que vale a pena estar atento.

E dois anos para o Opiniondesmaker, um grande nome de blog. Escreve ele: «Este blog possuirá uma coisa boa: não tem leitores; terá quanto muito olhos que pestanejam intermitentemente por aqui. É como um hotel feito para não ter hóspedes mas apenas passantes.» Mas um homem que escreve isto sabe que não é verdade: «Evitaria os temas difíceis, especializava-me no sermão da Montanha, relativizava a moral sexual, valorizaria o sfumato, inventava outra vez as amêijoas à bulhão pato, compararia Canaletto com Poussin e chamava a Borges menino da mamã, mas Deus estaria sempre presente; e haviam de ver.»

Outro eu.

O Carlos regressou. Fez bem.

País de Lula.

O velho PT, instrumental, cubano, araguaísta -- é disso que Lula se livra, com a tralha que tem de sambar (Genoíno, Dirceu, Delúbio, Valério, professor Luizinho, etc.)? Tralha de dois anos de poder assente em informalidade (o Banco do Brasil tornou-se accionista do PT, na verdade) e em optimismo, os dois males do populismo misericordioso.
A ideia de o grupo de Marta Suplicy pode chegar à direcção do PT também é curiosa: transporta, nos bolsos, o rasto de uma administração curiosa em São Paulo.
Entretanto, ao mesmo tempo que Lula chora, no planalto, atribuindo mais ministérios ao PMDB (incluindo o das Cidades, que era de Olívio Dutra) de Renan Calheiros e Sarney, o PMDB confirma que entrava no bolo do mensalão, o que é mais fogo a arder nas barbas do presidente.
Felizmente, neva.

PS - Sugestão do J.C.B., veja-se este blog.

México, regresso.

Em 1994 passei uma larga temporada no México e assisti, digamos, ao desmoronar do velho PRI; o seu último rosto era Carlos Salinas, que cumpria a via-sacra de revelações sem fim sobre as ligações entre política e droga, com homícídios pelo meio (incluindo o do candidato presidencial do próprio PRI), e as sequelas da «revolução zapatista». Ernesto Zedillo, o novo presidente, era um homem sensato com uma tarefa impossível: acabar com setenta anos de corrupção, arbitrariedades, violência, burlas eleitorais, perseguições. Assisti, com jornalistas do La Reforma, a assaltos a vendedores do jornal, praticados por funcionários do PRI. E vi televisão, um enorme monstro de propaganda do partido. Havia um claro sentido do irrespirável. Carlos Monsiváis, à esquerda, Jorge Fuentes e o grupo San Angel Inn, no sector liberal, e muitos assessores de Zedillo, comungavam dessa ideia simples: as coisas tinham acabado e o «zapatismo» de Chiapas era apenas um sinal. Depois, viria Cárdenas (que não veio; pelo contrário, foi a direita do PAN, e depois Vicente Fox). O PRI ganhou de novo as eleições em Mexico DF, com 47%.

FARC, Colômbia.

Raul Reyes, um dos homens fortes das FARC, numa reportagem da France Presse. Que não negoceia, a menos que o presidente Alvaro Uribe perca as eleições na Colômbia. Ninguém acha estranho que Reyes mencione países amigos nas suas declarações.

Verão, também.

As crianças deviam ser geneticamente impedidas de saltar para a piscina a menos de oitenta centímetros de tudo o que fossem esquinas, vértices, cantos, seja o que for. Problema de respiração, a meio do Verão.

Blog, book.

Dear blog: today I worked on my book, um texto a ler, no NYT.

julho 05, 2005

Retratos do Verão.

Praia da Comporta. Azul, branco, última luz do crepúsculo. Ruído do mar. Praias fluviais no Norte. Castanheiros verdes, carvalhos renascidos no castelo de S. António de Monforte, pinhais de Boticas.

Incêndios de Mafra, terra queimada, bombeiros.

Edimburgo. Fogo de artifício.

Aquelas imagens são banais e banalizadas. Não têm qualquer relevância nem, actualmente, qualquer significado.

PS - Estranho que a França e a Alemanha se associem para perdoar a dívida africana e para ajudas humanitárias ao grande continente, e não entendam que as vacas francesas e alemãs recebem mais subsídios num mês do que jamais receberão agricultores africanos ou latino-americanos durante uma vida inteira.


Pacheco Pereira escreveu sobre o assunto, a propósito de Edimburgo e de uma reportagem sobre Angola, potência militar regional.

Chineses na Madeira e a Cova da Moura. Coisas arrastadas pelo vento.

Na janela de comentários, «Anonymous» escreveu que aí «não moram só os "imigrantes africanos"; muitos do que lá moram, africanos ou não, são mesmo é portugueses, com passaporte e BI Portugueses, assim como a maioria dos jovens do "arrastão" do 10 de Junho». Parece-me inteiramente correcto. Para todos os efeitos, é preciso ver que, quando se fala em pretos & brancos, ou seja, pretos na Cova da Moura ou na Quinta do Mocho, estamos também a falar de muitos cidadãos portugueses. Distinguir pretos & brancos pode ser um julgamento misericordioso mas é também ignorância. O meu país é de várias cores.

O arrastão de Carcavelos surpreendeu muita gente e eu acho que há razões para isso. Não vale a pena sermos cínicos ao ponto de dizer que “estava escrito” – isso tanto serve para ser usado pela extrema-direita racista, que culpa “os pretos e os estrangeiros” pelos desacatos na velha pátria (como se fôssemos todos branquinhos e enjoados), como pela esquerda fatal que aprecia o retrato de vitimização “dos marginalizados e dos excluídos” (como se em Portugal houvesse apartheid). Esse caldeirão é redutor e nele cabe tudo o que não vale a pena discutir com seriedade. Na verdade, não estava escrito. Poderia acontecer, mas a dimensão do estrago tomou proporções alarmantes, com as televisões a anunciar mais “arrastões” onde se tratava apenas de assaltos e a tremer de comoção com um roubo por esticão cometido por um “cidadão de raça negra”.

Há uns anos, era Fernando Gomes ministro da Administração Interna, e uma actriz foi assaltada. A actriz murmurou ainda que Lisboa era pior do que o Rio de Janeiro. Só umas semanas depois toda a gente se deu conta do exagero e do ridículo. Imediatamente, explodiram comentários, na imprensa e na rádio, sobre o mal que os pretos estavam a fazer à pátria, ainda que o caso não tivesse registado as proporções trágicas do Meia Culpa, em Amarante (em que só brancos estavam envolvidos, portanto). A paranóia foi gritante. As televisões adoram.

Esta questão do racismo volta de vez em quando à tona. Uns energúmenos organizaram uma manifestação “patriótica” para pedir que os pretos sejam expulsos e a pátria salva da invasão dos estrangeiros. A praia de Carcavelos, entretanto, voltou à calma com menos gente, que prefere outras paragens. O problema de Carcavelos, aliás, não é de integração racial nem de segregação racial: era de policiamento. Pretos ou brancos, adolescentes “excluídos” ou imberbes “integrados”, os criminosos devem ser tratados como criminosos pela polícia. Não há volta a dar-lhe. O resto é cair na vitimização rota, muito sociológica e sacana, ou no racismo de pretos e de brancos, demasiado imbecil.

Há aqui uma questão central: a da nacionalidade. Eu quero que o meu país seja feito de pretos e de brancos, de católicos e de muçulmanos, de ucranianos e de beirões. É uma ideia pessoal e admito que seja lamentável – mas não vejo outra solução. Estamos todos cá. Já vai longe o tempo em que tivemos um treinador da selecção nacional de futebol que defendia a existência de “portugueses legítimos” e de “portugueses de segunda”. Para mim, Deco é como se tivesse nascido no Minho e um miúdo nascido de pais bielorrussos que trabalham em Lisboa é como se fosse ribatejano.

O presidente Sampaio foi à Cova da Moura. Devia ir mais vezes porque vivem lá portugueses e não pretos. E o presidente da Câmara da Amadora também. Se aquelas pessoas são portuguesas, são portuguesas – devem obedecer às nossas leis, ser tratados como cidadãos, presos se cometem crimes, hospitalizados se estão doentes, perseguidos se praticam excisão feminina, e os seus filhos educados nas escolas públicas. Essa é a lei que eu defendo. Se não são portugueses, devem comportar-se como estrangeiros e respeitar o país onde vivem até que decidam, de acordo com uma lei justa e generosa, optar pela nossa nacionalidade. E aos estrangeiros devemos também um pouco de atenção. Nós fomos estrangeiros em qualquer outro lugar da nossa vida.

Isto não evita os arrastões, mas ajudará bastante. O pior racismo é o da iniquidade com que se permite a miséria. A pretos ou a brancos. (no JN)

Enquanto a Microsoft vigia a net chinesa às ordens do governo.

Bispo católico raptado na China. Ainda não vi reacções oficiais a isto.

Blog de política. Política impura.

O Paulo Gorjão assinala dois anos do Bloguítica. Acompanhei os dois blogs que o Paulo manteve desde o início (o internacional e, depois, o nacional). Confesso que sinto alguma falta dos seus comentários sobre política internacional, onde se revelavam mais as sombras da política impura e os seus conhecimentos sérios quando se fala da Ásia-Pacífico, por exemplo. No caso da política nacional, a sua atenção é superlativa e, muitas vezes, desarmante, mesmo quando não concordo. Parabéns, Paulo -- outra cerveja nos espera no Bonaparte.

Chineses na Madeira.

As declarações de Jardim são impróprias e imbecis. Não há outro comentário que se possa fazer. Eu quero chineses, brasileiros, ucranianos, bielorrussos, japoneses (por falar nisso, há um excelente restaurante japonês no Funchal, com um sashimi muito bom), espanhóis -- tudo. Definam-se as regras e o assunto fica arrumado. Já o escrevi várias vezes, e sou insuspeito. E sobre Jardim sou ainda mais insuspeito (tenho um honroso processo judicial nesta matéria).
Quanto ao presidente da República, acho que reagiu de maneira sofrível. Por um lado, condenou as declarações. Por outro lado, estragou tudo no final, ao dizer que é preciso «ter muito cuidado em Portugal» para que atitudes como estas «não possam ser vistas por terceiros como declarações que tenham a ver com racismo ou xenofobia». Ridículo. Por terceiros? Porque temos de causar boa impressão lá fora? Porque temos de esconder o dr. Jardim debaixo do tapete? Porque o presidente foi à Cova da Moura?

A existência de um homem que diz «está-me a fazer sinal aí porquê? Que estão chineses aí? É mesmo bom que eles vejam porque não os quero aqui» é preocupante.

O país de Lula. Continua o abanão.

Caindo a direcção do PT, com Genoíno (talvez Raul Pont suba a presidente, quem sabe), o encantador Delúbio e quem mais Lula puser na lista de perdidos e amigos que têm de sambar, há um dilema a resolver: «Na direcção do PT só vai ficar o Lula e gente que não é do PT.»

Claro que ficam os gaúchos. É o que se chama a síndrome Getúlio de regresso...

O país sem fim. Coisas boas.

Mart'nália no Porto, brilhante, cheia de riso. O pai Martinho da Vila em Lisboa e no Porto. Neva na serra, de Gramado a Cambará. O Ulisses está na lista dos mais vendidos, na nova tradução de Bernardina Pinheiro (e Paulo Coelho desceu no top -- é a minha vingança depois de ter ocupado parte dos últimos dez dias a ler o homem). Peço-lhes o favor de descobrirem, na música, os nomes de Vítor Ramil, de Adriana Maciel, de Nei Lisboa e de Claudio Levitan.

Malvinas.

Eu, por exemplo, que sou pela devolução das Malvinas à Argentina.

O país de Lula. Continua o «mensalão».

Continua o mesmo episódio da mesma novela. Com esta novidade, há mais partidos aliados do PT a receber por fora, mantendo o PMDB a velha tradição de conhecer todo o mundo. Ou de como há estranhas coincidências: os pagamentos do PT aos partidos aliados aumentavam na véspera de votações importantes no Congresso. Teoria um: o PT, coitado, e Lula, coitado, vítimas do sistema (apud companheiros vários, enternecidos). Teoria dois: trata-se de uma conspiração evidente contra o país (Frei Betto, Dirceu, Genoíno, etc.). Não vejo outras explicações. Mas os companheiros pedem delicadeza no tratamento dos companheiros investigados. Lula diz que o combate à corrupção será mortífero, mas a verdade é que a história já vem de longe e chamuscou as barbas do presidente.
Entretanto, o velho Malvadeza diz que os ministros de Lula são maus, mas, como bom coronel, não deixa de apoiar Lula. Amizades.

julho 03, 2005

A Praia.

O Ivan foi uma das pessoas que gostei de conhecer nos últimos dois anos de blogosfera. Muitas vezes, a rir, e só por isso, eu dizia «aqui está o Ivan, que é de direita, embora ele não saiba, e diga que é de esquerda». Na verdade isso nunca foi importante, nem costuma ser importante entre gente bem-educada. A Praia é um blog delicado, bem escrito e o Ivan é um cavalheiro. A delicadeza faz parte dos elementos de um bom carácter. Por mim, tenho pena que ele não escreva mais; mas compreendo que estas coisas têm a justa medida. Tenho com o Ivan um interesse comum, o Brasil (futebol, livros, praias, música), que ele conhece bem e onde nos encontrámos para beber e até fumar um bom charuto. Tudo isto para dizer que A Praia faz hoje dois anos.

IVA. O combate pela pátria.

Aviz fica a quarenta e cinco minutos de Espanha. O supermercado Corte Inglés de Badajoz, na passada sexta-feira, estava cheio de portugueses. O combate do IVA está a ter bons efeitos. A pátria regressa aos velhos e bons hábitos.

PS - Aliás, há supermercados espanhóis que fazem «entrega em casa», do lado de cá da fronteira.

julho 02, 2005

Pink Floyd.

Aquele tema do Live Aid. Eu tinha 14 anos em Chaves e o mundo era tão incógnita como hoje. A mesmíssima canção, trinta anos depois.

Outro Poema de Bernardo Pinto de Almeida. As palavras são coisas

Falamos das coisas e elas acontecem

por isso ciciamos o que nos pede o corpo

não são as coisas só aquilo que dizemos

nossas pobres palavras não as dizem inteiras?

As palavras são coisas, extremas, luminosas,

quando tu dizes porta, há uma porta que se abre

quando tu dizes sexo, há um amor que se cumpre

não sabemos sequer o poder das palavras

nem o poder das coisas nem o poder dos rostos.

As coisas são palavras feridas pela morte

são agulhas finíssimas que trespassam a noite

os teus lábios dizem coisas os teus lábios cintilam

por eles fala o mundo, por eles se faz o oiro

pois o mundo acontece sempre que o pronuncias.

Vingança.

Juntamente com os livros do cavalheiro, li os quatro primeiros capítulos do segundo volume do opus magnum de João Alberto Pereira Azevedo Neves, um vetusto catedrático de Medicina Legal de Lisboa nos anos vinte do século passado: Guia de Autópsias. É a segunda edição, de 1930 (Imprensa Nacional). A parte sobre «ferimento occasional da morte» é superlativo: «A affirmação de que um ferimento foi apenas causa occasional demanda que se prove que elle não era sufficiente para, só por si, produzir a morte e, por outro lado, que havia circumstancias particulares no offendido e victima que fizeram com que a offensa, que n'outros seria benigna, para elle se tornasse mortal.» Como em tudo.

Gosto: uma palavra armadilhada.

Provavelmente, juntamente com Bernardo Pinto de Almeida, o autor de quem mais gosto de ler textos sobre arte e sobre artistas. José Gil acaba de publicar Sem Título. Escritos sobre Arte e Artistas (Relógio d'Água).

Misericórdia no meio do calor.


De entre os livros dispersos, e até para repousar das coisas temíveis a que a profissão obriga, leio Morte no Paraíso. A Tragédia de Stefan Zweig, de Alberto Dines (Rocco). Que livro. Excelente biografia, mesmo com olhar enternecido de Dines. O problema das biografias é a paixão pelo biografado. Mas não há outro remédio: «Subir não é apenas o ato de acompanhar a elevação da topografia, pode ser a maneira de escapar da depressão. Subiu o morro em Salzburgo, a colina de Bath, agora vai escalar a serra de Petrópolis, três refúgios acima da mêlée. Tudo diferente em matéria de geografia, tudo igual em matéria de significado. A varanda que tanto o fascina é a metáfora da fresta por onde pensa espreitar os tumultos lá embaixo. Chalé mobilado -- não quer acumular coisas -- assim não terá que cortá-las logo de seguida.» [pág. 403] E este fragmento da carta de Albert Speer: «Não posso contar muito sobre a reacção do governo nazi ao suicídio de Stefan Zweig. Tudo o que posso lembrar foi que sua morte foi saudada com grande alegria e que o partido considerou um bem merecido para aquele inimigo do nacional-socialismo.»
E o funeral de Zweig (autorizado por Getúlio Vargas em Petrópolis, e ao qual não compareceu nenhum escritor brasileiro): «No exato momento em que Hitler acende os fornos do Holocausto, na aprazível Petrópolis discute-se a maneira mais honrosa de sepultar uma vítima do nazismo[...]» «Badalam os sinos das igrejas, o comércio fecha as portas, nos mastros a bandeira do Brasil a meio-pau. Cinco mil pessoas acompanham o féretro a pé enquanto, nas calçadas e sacadas, outros dão adeus ao inventor do país do futuro. No cemitério da cidade, obedecendo ao ritual judaico, os caixões são colocados sobre pranchões de madeira, de modo que os corpos fiquem perto do chão, enquanto o rabino Lemle lê um trecho do Jeremias, do próprio Zweig [...].»

Lupicínio Rodrigues, aliás.



















Se Acaso Você Chegasse

Se acaso você chegasse
No meu chatô e encontrasse
Aquela mulher
Que você gostou,
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou.
Eu falo porque essa dona
Já mora no meu barraco
À beira de um regato
E de um bosque em flor
De dia, me lava a roupa,
De noite, me beija a boca
E assim,
Nós vamos vivendo de amor

Jefferson, o Átila brasileiro, 3.

Para quem quer ler o essencial sobre o assunto, ir aqui. Tem especial importância a nota de humor de Lula: «Amigos que erraram vão sambar.» Eles não têm feito outra coisa, note-se, companheiro.

Jefferson, o Átila brasileiro, 2.

Mas reparem bem neste pormenor: Jefferson, o homem que está a deixar o Brasil no meio do turbilhão, denunciando o «mensalão» e outras corruptelas maiores, «teria se desequilibrado ao subir numa escada quando procurava uma caixa de CDs do cantor Lupicínio Rodrigues». Lupicínio, génio e herói porto-alegrense (e autor do hino do Grêmio, já agora.) Bom, espíritos perversos propõem que a canção que Jefferson (o homem a quem o PT pagava para manter o PTB na órbita do lulismo) procurava era, imagine-se, «Vingança». E o que diz a canção? Isto (em itálico, para bom entendedor):

Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram
Que lhe encontraram chorando e bebendo
Na mesa de um bar e que quando
Os
amigos do peito, por mim, perguntaram
Um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar
Mas, eu gostei tanto, tanto, quando me contaram
Que tive, mesmo, que fazer esforço .
Pra ninguém notar
O remorso, talvez, seja a causa do seu desespero
Você deve estar bem consciente do que praticou
Me fazer passar essa vergonha
com um companheiro
E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou
Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança

Aos santos clamar
Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada
Sem ter, nunca, um cantinho de seu pra poder descansar.

Jefferson, o Átila brasileiro.










Aí está como Roberto Jefferson apareceu para mais um depoimento na CPI brasileira que também se encarrega do «mensalão». A legenda podia ser: «Vejam o que acontece a quem denuncia o aparelho do PT.» Mas não. A imprensa ecslarece: «O deputado exibiu ao chegar à CPI o rosto inchado, com 12 pontos, segundo sua assessoria de imprensa, causado por um acidente doméstico ocorrido na segunda-feira passada. O deputado teria se desequilibrado ao subir numa escada quando procurava uma caixa de CDs do cantor Lupicínio Rodrigues e o armário no qual se apoiou caiu sobre a cabeça dele. Por causa disso, Jefferson teria pensado em desistir». Mas não desistiu. Tudo baralhado na pátria de José Dirceu.

julho 01, 2005

A natureza do mal.

Ontem, ao passar em Coimbra, não quis esquecer-me de dar os parabéns ao Natureza do Mal. Por dois anos de vida.

Virada.

Vitória de virada do Grêmio, meu tricolor brasileiro. Depois de estar a perder por 1-3, deu a volta e terminou a ganhar 4-3. Sim, o Grêmio subiu ao quarto lugar, claro que da segundona. Mas enfim, é um ano sabático, logo estaremos de volta.

Gostos.

Bom, sentimentos nada reprováveis.